Na reunião desta quarta-feira (4/6), a Subcomissão do Serviço de Transporte Individual de Passageiros por Motocicletas recebeu três convidados que realizaram apresentações sobre dados de pesquisas relacionadas à segurança viária envolvendo transporte de passageiros por motocicleta na cidade de São Paulo. A reunião foi conduzida pela vereadora Renata Falzoni (PSB), presidente do colegiado vinculado à Comissão de Trânsito e Transporte e Atividade Econômica.
O representante do Instituto Cordial, Luis Fernando Meyer, apresentou duas pesquisas sobre mobilidade envolvendo motociclistas. A primeira trouxe dados de uma pesquisa realizada entre 2023 e 2024 sobre a segurança viária de motociclistas com passageiros no Brasil e apontou alguns fatores, como:
– Riscos associados à condução de passageiros, que possui diversas especificidades em comparação com outros usos da motocicleta como, por exemplo, lazer e delivery;
– O comportamento dos passageiros e uso de equipamentos de segurança interferem na segurança viária;
– Fiscalizações surtem efeito para que os motociclistas respeitem as leis de trânsito;
– Geometria da via e relevo atuam como inibidores de condução perigosa;
– Flexibilidade da moto pode ocasionar comportamento que coloque em risco condutores e passageiros;
– O serviço é especialmente utilizado por mulheres, inclusive por uma percepção de segurança pública;
– O serviço de transporte de passageiro com motocicleta é voltado para o público de classe média baixa ou classes baixas e são utilizados em locais onde a oferta de serviços públicos e infraestrutura urbana estão menos presentes ou ausentes.
“Notamos que são vários fatores que envolvem a segurança tanto do motociclista como do passageiro, exemplo: o comportamento do garupa, a utilização de equipamentos de segurança, a geometria das vias, entre outros. São alguns achados que apontam que quando se está com passageiro há impactos diferentes comparado com outros usos da motocicleta”, explicou.
Já sobre os dados da pesquisa envolvendo a causa de sinistro com motociclistas, Meyer aponta que a falta de experiência do motociclista e o comportamento não são as únicas explicações para a sinistralidade, mas a formação inicial ainda é um problema; e que, de forma geral, os motociclistas parecem conduzir com maior cuidado e menor velocidade quando estão com passageiros.
A pesquisa ainda fez um recorte sobre o perfil dos motociclistas que em média pilotam há 12 anos; 72% tem habilitação e está em dia; 46% utilizam o veículo para fazer entregas e 38% usam para se deslocar ao trabalho e faculdade; e ainda mais de 80% dos entrevistados são experientes e pilotam de 6 ou 7 dias por semana.
Mortes no trânsito
As mortes no trânsito também foram abordadas. Segundo o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, Diogo Lemos, no mundo cerca de 1,19 milhão de pessoas morrem anualmente no trânsito e essa é a principal causa da morte para crianças e jovens entre 5 e 29 anos.
Para Lemos, antes de discutir a regulamentação dos aplicativos de motocicleta com passageiro é importante analisar os impactos financeiros que os acidentes trazem. “Esses são números que têm que ser trazidos e olhados de forma mais ampla. Investir em segurança viária é extremamente custo efetivo e a motocicleta é um grande destruidor social já que hoje as principais vítimas no trânsito são motociclistas”, destacou.
Lemos ainda ressaltou que a velocidade segue sendo o principal fator de risco para as vítimas de acidentes no viário. “A velocidade está atrelada à severidade e ao aumento da chance de acontecer qualquer sinistro. Independente das condições, seja ela distração, ou bebida alcoólica, a velocidade sempre será um fator impactante nos acidentes”, explicou Lemos, que ainda apontou a queda no número de multas como um fator preocupante na cidade de São Paulo. “A fiscalização é um fator chave para dissuadir comportamentos de risco e para que sejam cumpridas as regras de trânsito é muito importante a fiscalização”.
Para o coordenador de Planejamento da WRI Brasil, Bruno Rizzon, quanto mais diferentes velocidades há em uma via, maior o risco de possibilidade de ocorrência com sinistro. “Não é atoa que quando os motociclistas andam em corredores ou faixas azuis, o risco é grande devido à diferença de velocidade entre os veículos no congestionamento andando devagar e motos em outra velocidade e por isso a questão da velocidade tem que ser trata de forma mais ampla”, disse.
Posicionamento dos vereadores
Abordando a questão da velocidade, o vereador Paulo Frange (MDB) trouxe como exemplo a Etiópia, que trata da fiscalização através de monitoramento de velocidade automático pelo GPS, o que pode ser uma possível solução para a queda no número de mortes no trânsito da capital. “Na Etiópia, as empresas por aplicativo realizam o monitoramento das motocicletas através de um limitador que caso o veículo ultrapasse o limite de velocidade uma luz vermelha é acionada e o motociclista recebe uma multa. Se ela não for paga, ele fica impossibilitado de utilizar o aplicativo. Se conseguirmos implementar na cidade de São Paulo, teríamos a redução drástica no número de mortes no trânsito”, destacou.
A presidente do colegiado, vereadora Renata Falzoni (PSB), elogiou a qualidade da abordagem do tema. “Hoje fizemos uma análise sem isolar o sistema e o cenário da cidade como um todo e ainda o reforço na intermodalidade, na segurança viária, no fortalecimento do transporte coletivo e os tipos e causas de sinistros”, disse.
Requerimentos
Ainda durante a reunião, os vereadores aprovaram quatro requerimentos todos de autoria da vereadora Renata Falzoni – de convites a representantes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), Fairwork Brasil e do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper Cidades.
Participaram da reunião os vereadores Gilberto Nascimento (PL), Kenji Ito (PODE), Pastora Sandra Alves (UNIÃO), Paulo Frange (MDB) e Renata Falzoni (PSB). Para conferir a reunião na íntegra, clique no vídeo abaixo:.