Realidade do transporte por motocicleta em países africanos é apresentada à Subcomissão que discute regulamentação em São Paulo

Por: FELIPE PALMA
DA REDAÇÃO

29 de outubro de 2025 - 13:47
Reunião da Subcomissão do Serviço de Transporte Individual de Passageiros por Motocicleta, realizada em 29 de outubro de 2025 no Plenário da Câmara Municipal de São Paulo. Na imagem, com quatro pessoas à mesa - sendo três vereadores - e um cinegrafista gravando. Ambiente amplo com paredes de mármore claro, crucifixo na parede e tela projetando texto em inglês sobre métodos de pesquisa.Lucas Bassi | REDE CÃMARA SP

Nesta quarta-feira (29/10), a Subcomissão do Serviço de Transporte Individual de Passageiros por Motocicleta recebeu pesquisadores e financiadores mundiais de projetos relacionados ao transporte por motocicletas. A experiência de países africanos, como Quênia e Etiópia, no combate a redução de acidentes, foram apresentadas aos parlamentares, além das soluções adotadas nestes locais.

Contribuições

Gladys Nyachieo, pesquisadora da Multimedia University of Kenya, expôs o trabalho feito em torno do projeto “Uma Investigação nos Custos de Saúde Gerados por Acidentes com Motociclistas no Quênia”. O objetivo foi estudar o uso de capacete entre operadores dos chamados ‘boda-boda’, um modal local, e analisar os registros hospitalares das pessoas envolvidas nos acidentes para entender as implicações.

“O setor de mototáxi expandiu rapidamente a partir de 2008 devido à existência de lacunas no transporte estrutural e a inexistência de uma política fiscal aliada à fraca governança. Uma política taxativa fundamental trouxe custos reduzidos, o mercado de massa em meio a alternativas de mobilidade limitada e o alto índice de desemprego entre os mais jovens fomentaram junto à ausência de barreiras para entrar no mercado para ampliar o setor e consequentemente o número de acidentes e mortes.”

Segundo a pesquisadora da Universidade do Quênia, algumas recomendações foram feitas: melhoria nos equipamentos de trânsito, treinamento e seguro das motocicletas. A necessidade de fiscalizar para mudar o comportamento dos usuários é prioridade, declarou durante a apresentação do estudo, pois considera que a fiscalização é baixa. “As pessoas não têm medo ao não utilizar capacete, a gente quer incluir políticas preventivas e fiscalizar. Campanhas de conscientização são essenciais.”

Sam Clark, chefe de programas da ONG Transaid, que atua no Quênia desde 2021, participou da reunião na sequência. Ele explicou que o uso de motocicletas vem aumentando desde 2008, a maioria para fins comerciais, modelo de emprego bastante procurado por jovens locais. “Precisamos incorporar benefícios incluindo um rastreio mais eficaz, por parte do governo, do número de mototáxis; garantir melhor acesso a seguro, crédito e treinamento para os condutores; comunicação aprimorada com os motociclistas quando necessário; e a possibilidade de implementar pequenos projetos de impacto.”

Por fim, o gerente de projetos de mobilidade urbana do WRI África – organização global de pesquisa que trabalha para melhorar a vida das pessoas, proteger a natureza e estabilizar o clima – trouxe um panorama da situação em Addis Abeba, capital da Etiópia, e a experiência do tratamento com motociclistas.

“A cidade registrou um aumento notável de caronas em motos, resultando em acidentes fatais de motociclistas e passageiros. Como resposta aos números alarmantes, a cidade implementou uma regulamentação proibindo o movimento de motos dentro de um limite por questões de segurança. Motos registradas com a permissão para circular tem que ter sistema de GPS, uso obrigatório do capacete e de colete refletivo, além da placa estar visível como exigências”, explicou Iman Abdulwassi Abubaker.

Ele contou ainda que o trabalho é permitido, porém o motociclista precisa se vincular a alguma associação ou empresa oficial para realizar o serviço de transporte de passageiro. De acordo com os últimos números apresentados, as ações foram capazes de melhorar os índices de fatalidade, reduzidos em 50%.

Vereadores

Em entrevista à Rede Câmara SP, a presidente da Subcomissão, vereadora Renata Falzoni (PSB), destacou o avanço da legislação nos países africanos diante do cenário incorporado, principalmente, por jovens. “Podemos nos espelhar no exemplo da existência de um gerenciamento feito por empresas no que se refere à fiscalização do uso do capacete e colete, GPS e treinamento adequado aos motociclistas. Aqui eles estão desamparados.”

Já o vereador Paulo Frange (MDB) ressaltou a questão da velocidade nas vias como questão de segurança primordial. “Há uma contestação permanente das medidas básicas de segurança dos jovens e o que me chama a atenção é que eles não dão atenção à velocidade. Quanto mais rápido, maior o risco de morbidade devido ao acidente e mortalidade. Velocidade é fator decisivo no problema, sendo que os índices são elevados pelo tamanho da população comparada com São Paulo.”

Além da vereadora Renata Falzoni (PSB) e do vereador Paulo Frange (MDB), a reunião da Subcomissão, que é ligada à Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica, contou com a presença do vereador Gilberto Nascimento (PL). O encontro pode ser visto aqui.

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