Câmara debate transmasculinidade e saúde mental em audiência

A discussão foi promovida em conjunto entre a Câmara de Vereadores e a Câmara dos Deputados

Por: KAMILA MARINHO
DA REDAÇÃO

19 de setembro de 2025 - 23:11
Foto de mesa de debate com oito pessoas sentadas, bandeiras trans e LGBT penduradas à frente. Público ocupa auditório. Ao fundo, parede com pintura colorida; iluminação clara e ambiente formal de plenária.Richard Lourenço / REDE CÂMARA SP

A saúde mental de pessoas transmasculinas e não-binárias foi discutida em Audiência Pública na noite desta sexta-feira (19/9) na Câmara Municipal de São Paulo. O debate, promovido pela Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher do Legislativo paulistano em parceria com a Câmara dos Deputados, atendeu ao requerimento da vereadora Amanda Paschoal (PSOL), integrante do colegiado da Casa.

“Estamos agora no mês do Setembro Amarelo – de prevenção ao suicídio. Infelizmente, por conta do preconceito e das dinâmicas de nossa sociedade, os homens trans são uma parcela da população que ainda sofrem muitos desafios para conseguir acesso à cidadania, à dignidade e à saúde mental de uma forma geral”, explicou Amanda. 

A ex-vereadora do Parlamento da capital paulista e atual deputada federal Erika Hilton (PSOL – SP) é a autora da solicitação da audiência conjunta protocolada em Brasília pela Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial. Hilton destacou a importância de unir esforços para falar sobre pessoas trans nas Casas Legislativas.

“Promover esse tipo de debate conjuntamente com a nossa Comissão dos Direitos Humanos de Brasília é de fundamental importância. Precisamos discutir os cuidados com a saúde mental de todas as pessoas, mas em especial daquelas que são mais atingidas e vulnerabilizadas pelo ódio, preconceito e desigualdade”, disse Erika Hilton. 

Um dos convidados da mesa da Audiência Pública, o publicitário Luca Scarpelli compartilhou a experiência dele nas redes sociais. De acordo com o influencer, o trabalho desenvolvido nas mídias digitais tem o objetivo de mostrar o dia a dia de uma pessoa trans.  “Foi a maneira que encontrei para que o público em geral tenha uma noção maior sobre o que está acontecendo com as pessoas transmasculinas”. 

“Eu trabalho com comunicação e me deparo com situações de saúde mental no meu trabalho, abordo isso em meus conteúdos, trazendo informação, dados e pesquisas de uma maneira leve e descomplicada, justamente para atingir mais pessoas”, falou Scarpelli. 

Para o psicólogo Zeca Caru de Paula Seabra, é fundamental debater as demandas, as vulnerabilidades, os cuidados e as políticas públicas antidiscriminatórias voltadas à saúde mental e à promoção dos direitos humanos. Segundo o profissional, “temos poucos registros, estudos e debates que sustentam a integridade que o assunto demanda”.

“Especificamente sobre a população transmasculina fica evidente a urgência, porque poucas vezes são reconhecidos os atravessamentos que são manifestados por essa população em suas especificidades”, concluiu Zeca.

Homem trans, o rapper Júpiter Pimentel afirmou que falta acolhimento na rede pública de saúde às pessoas trans. “Até hoje temos uma política pública voltada para saúde mental de pessoas transmasculinas. É por isso que temos um alto índice de tentativas e ideações suicidas. Percebemos que pouco é feito para olhar para isso e tratar essas pessoas”. 

Ivone Campos, mãe de Demétrio Campos, homem trans que se suicidou em 2020 aos 23 anos de idade, enviou um vídeo de depoimento para ser apresentado durante o encontro. Ela contou que a morte do filho foi provocada por uma depressão decorrente das injustiças e violências sofridas ao longo da vida.  

“Estamos no mês de prevenção ao suicídio e eu estou mandando esse vídeo para todo mundo ver a necessidade de novas políticas públicas para as pessoas trans. Que isso não aconteça mais. O índice de pessoas – como o meu filho – que se suicidaram no Brasil, é enorme”, lamentou Ivone. 

Quem também contribuiu com as discussões foi o argentino Paul Giandoni. Ele falou em nome de pessoas trans imigrantes no Brasil. Giandoni relatou as dificuldades enfrentadas por quem vem de outros países para viver em solo brasileiro.

“Eu quero políticas públicas para que nós possamos viver com dignidade e termos os nossos direitos contemplados. Não temos direitos por sermos trans e também por sermos imigrantes. Precisamos de gente para escutar as nossas demandas e fragilidades”,  disse Paul. 

Já Charly Gustavo, que está gestante, falou sobre os homens trans que engravidam. Ele cobrou a implementação de redes de acolhimento e de atenção. “A nossa saúde mental é fundamental para enfrentar os desafios da gravidez. É crucial que tenhamos acesso a serviços de saúde inclusivos e apoio psicológico para a garantia de nosso bem-estar”. 

Para assistir à íntegra da Audiência Pública, com todas as participações, clique aqui. 

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