Nesta quarta-feira (26/11), a Subcomissão de Cultura, vinculada à Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo, realizou Audiência Pública para debater o tema “Difusão do Hip Hop, seus desafios e perspectivas”. A discussão foi um pedido do vereador Dheison Silva (PT), presidente do colegiado.
O parlamentar salientou que um dos objetivos do debate é entender como a Prefeitura de São Paulo tem executado o orçamento voltado ao hip hop. “Temos o mês do hip hop, mas pouca coisa tem sido feita. A ideia é poder conversar, ouvir quem faz o movimento acontecer no dia a dia, com a população e com o Executivo. O hip hop tem várias linguagens, dança, batalhas de rima. Precisamos de um marco regulatório na cidade de São Paulo para poder valorizar todas as linguagens do Hip Hop, inclusive o breaking, que é uma modalidade olímpica”.
O presidente da subcomissão ainda frisou que tem recebido reclamações, principalmente sobre a falta de fomento do Poder Público. “Esse fomento é muito aquém pelo tamanho que é esta cidade. Precisamos abranger todas as 32 subprefeituras da cidade, ter essa expressão marcada nas Casas de Cultura, o que não acontece em todos os territórios”.
Mais fomento para o Hip Hop
Os artistas, integrantes e representantes dos coletivos culturais pediram mais fomento para o movimento, especialmente nas periferias. Eles também cobraram a elaboração de políticas públicas e leis para o Hip Hop.
A presidente da Aliança Negra Posse, Simone Santos, afirmou que mora há 35 anos em Cidade Tiradentes – extremo leste da capital paulista. Para ela, o Hip Hop é uma ferramenta de transformação social para os jovens. “O Hip Hop salva vidas. Você ocupa os jovens, você oferece arte, cultura, lazer, esporte, música. É um lugar de extravasar, de poder falar, de poder manifestar as insatisfações políticas, para poder aprender e entender os contextos sociais”.
Simone destacou que o estilo musical transforma a vida das pessoas periféricas. “Se tivéssemos um pouco mais de estrutura, com certeza, Cidade Tiradentes teria muito mais coisas para oferecer. O Hip Hop alicerçou aquela comunidade e fez muita diferença. Com ajuda do Poder Público, dos nossos representantes, podemos avançar mais”.
Ruberval Oliveira, mais conhecido como MC Who, é um dos fundadores da Construção Nacional do Hip Hop e um dos pioneiros do movimento no país.
Ele enfatizou que já houve avanços, mas é preciso mais valorização. “O Hip Hop é afro diaspórico, tem ação e origem nos Estados Unidos, mas, aqui, ele ganhou contornos e características nossas. A Audiência Pública de hoje vai trazer uma análise crítica e construtiva das ações dos Núcleo do Hip Hop da Prefeitura de São Paulo e também dizer que não há mais como adiar o reconhecimento das batalhas de rima, os slams, e os saraus que ocupam os espaços públicos”.
“Eles ficam à mercê da repressão policial, da falta de segurança e da falta de estrutura. São territórios de práticas pedagógicas, formadores. É um excelente recurso para ter a juventude praticando cultura. Se a gente está na rua é porque não tem equipamentos públicos que nos dê atenção”, ressaltou Ruberval.
Vitória de Lima Santos, a Poeta Rebelião, pediu a aprovação do PL (Projeto de Lei) 560/2022, da ex-vereadora e deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) e dos vereadores Luna Zarattini (PT) e Hélio Rodrigues (PT). A proposta autoriza a instituição de fomento ao movimento Hip Hop na cidade de São Paulo.
“Esse projeto ainda nem passou pela CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa). Essa Audiência Pública também é um momento para a gente falar da cultura, sobre a juventude, como a gente se insere dentro dos espaços das Casas de Cultura, mas como a gente também faz isso sem o fomento da Prefeitura. É sempre importante ter uma lei de incentivo, algum fomento para que a gente possa levar a nossa arte a todos”, disse Vitória.
Importância do diálogo
A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo foi representada pelo coordenador do Núcleo de Hip Hop da pasta, Marcelo Igor de Souza. “Já é um avanço para o movimento ter uma cadeira dentro da Secretaria para pensar e cuidar das políticas públicas voltadas para o movimento Hip Hop. Esse diálogo com a sociedade civil organizada e com o movimento Hip Hop é muito importante para, de fato, construirmos juntos políticas públicas. A Audiência Pública é um momento para a gente poder escutar o movimento, para poder alinhar essas demandas”.
O coordenador do escritório estadual do Ministério da Cultura em São Paulo, Alessandro Azevedo, participou do debate. Azevedo afirmou que o Hip Hop também é um movimento social. “O Ministério da Cultura fez a aproximação do movimento com o Legislativo, por meio do vereador Dheison Silva. Eu fiz uma reunião com ele e com algumas pessoas do movimento, trazendo essa demanda de criar um PL que trata das batalhas de rimas, que é algo que tem acontecido em várias partes do Estado de São Paulo. Essa audiência pública também vai ajudar nessa articulação com a Secretaria Municipal de Cultura e com o município”.
Confira a Audiência Pública na íntegra aqui.
