A Câmara Municipal de São Paulo realiza nesta sexta-feira (3/10) a 24ª edição da Conferência Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas em São Paulo. Este ano, o evento, que acontece desde 2002, é preparatório para a COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece entre 10 e 21 de novembro, em Belém, no Pará.
O encontro entre sociedade civil, instituições, iniciativa privada e governos tem como objetivo aprofundar a discussão sobre sustentabilidade e levar as demandas da maior cidade da América do Sul para a COP30. Serão alinhadas posições para construir consensos e elaborar um documento de contribuição oficial de São Paulo com propostas de políticas ambientais urbanas.
Uma delegação de vereadores estará presente em Belém. Integram a comitiva os vereadores Hélio Rodrigues (PT), Dra. Sandra Tadeu (PL), Renata Falzoni (PSB), Nabil Bonduki (PT), Keit Lima (PSOL), e Marina Bragante (REDE).
Abertura da conferência
A mesa de abertura foi composta pelo vereador João Jorge (MDB), 1º vice-presidente da Câmara Municipal, representando o presidente do Legislativo paulistano, vereador Ricardo Teixeira (UNIÃO), as vereadoras Marina Bragante (REDE) e Renata Falzoni (PSB), a deputada estadual Marina Helou (REDE-SP), o ex-vereador Gilberto Natalini, idealizador da Conferência Produção Mais Limpa, além de José Renato Nalini, secretário executivo de Mudanças Climáticas do município de São Paulo, representando o prefeito Ricardo Nunes (MDB), Regina Santana, secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania e Rodrigo Ashiuchi, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente.
Abrindo os trabalhos, Gilberto Natalini disse que construir sustentabilidade é um exercício de democracia e de persistência. “A gente tem avançado bastante e a Conferência colaborou para criação de leis importantes como o uso e reuso de água, a lei de merenda orgânica e mudança do padrão de combustíveis dos ônibus de São Paulo.”
O secretário Rodrigo Ashiuchi destacou a importância do enfrentamento da emergência climática e falou sobre ações que vêm sendo adotadas no município. “A cidade de São Paulo tem grandes iniciativas, como os ônibus elétricos, como o biometano produzido pelos aterros e já usados nos caminhões de coleta. Daqui há um tempo teremos cerca de 26% do nosso território municipal em áreas de preservação e cobertura vegetal de mais de 53%.”
A vereadora Marina Bragante falou que a cidade de São Paulo tem desafios climáticos complexos, diversos e enormes que precisam ser enfrentados. “Só em janeiro desse ano, os atendimentos na área de saúde em São Paulo cresceram 22% por causa das ondas de calor. As ilhas de calor que existem na nossa cidade precisam ser enfrentadas. A temperatura pode variar em até 9 graus nas ruas de Paraisópolis com relação às ruas do Morumbi, que é um bairro vizinho”.
Em sua participação, o secretário Renato Nalini ressaltou a importância do Legislativo para que as ideias trazidas na conferência se transformem em realidade. “É muito bom que o Legislativo tenha uma preponderância nesse tema. O Parlamento é ressonância das aspirações populares, tudo chega através do Parlamento. É o Parlamento que edita as regras, o Executivo só pode cumprir a lei no Estado de Direito. Então é daqui que têm que sair essas propostas. Precisaríamos pensar mais seriamente em IPTU Verde, em telhados verdes, em incentivos para que voltem jardins, convencer a poderosa indústria da construção civil a deixar mais espaço para que haja pomares e hortas nos edifícios.”
Já o vereador João Jorge trouxe conhecimentos obtidos em recente viagem oficial à China sobre medidas avançadas de tecnologia e mobilidade que impactam positivamente o meio ambiente. “Nós vimos um sistema de armazenamento de energia elétrica. É um contêiner que a Prefeitura vai comprando energia elétrica mais barata durante o dia e abastece os ônibus durante a noite”.
A abertura da conferência contou também com a presença do vereador Nabil Bonduki (PT), integrante da comitiva da Casa que estará na COP30; de Maria Teresa Fedeli, secretária executiva do Programa Mananciais; vereadora Nayla de Souza (REDE), da cidade de Vinhedo, interior de São Paulo; Carlos Alberto Maluf San Severino, representando o presidente da OAB-SP, Cacilda Paranhos, coordenadora da ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) de Guarulhos e Luisa Cordeiro, da direção estadual do PC do B.
1ª Mesa – Gestão de mananciais e saneamento sustentável
A primeira mesa de debates abordou a gestão de mananciais e o saneamento sustentável. A mediação foi feita pela deputada estadual Marina Helou, coordenadora da Frente Parlamentar Ambientalista pela Defesa das Águas e do Saneamento da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).
A mesa ainda foi composta por Samuel Barreto, gerente nacional de Água e do MApSP (Movimento Água para São Paulo) da The Nature Conservancy; Caio Ferraz, diretor e roteirista do documentário média-metragem “Entre Rios”, referência no debate da história dos rios na cidade de São Paulo; Marta Angela Marcondes, professora e pesquisadora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul); coordenadora do Projeto IPH Índice de Poluentes Hídricos e coordenadora do Projeto Expedições Mananciais; Wesley Silvestre, líder comunitário na zona sul de São Paulo e estudante da área pública no IFSP – Pirituba, que preside a OEKOBR (Oekocientific), com foco em promover o saneamento ambiental como Organização Social de Interesse Público, e Victor Lopes, da equipe de Finanças Verdes e Inovação do ICLEI – América do Sul e porta-voz da Juventude em Rede na cidade de São Paulo.
Marina Helou destacou que é, principalmente, pela água que as pessoas vão sentir os impactos das mudanças climáticas. “É pela água que a gente vai sentir, ou extrema seca, ou grandes enchentes como vimos no Rio Grande do Sul, ou eventos extremos colocando a população em risco como vimos em São Sebastião, ou até a nossa segurança hídrica ameaçada como a gente está vivendo hoje no Estado de São Paulo.”
Caio Ferraz alertou que a água deve ser mais discutida no debate sobre mudanças climáticas. “O efeito estufa, ele é parte CO2 e parte água. A gente tem que pensar em redução de perdas, uso de águas desperdiçadas e como a gente consegue infiltrar mais água para que não chegue tão rápido nos córregos.”
Wesley Silvestre trouxe para o debate a questão dos mananciais. “Embora a região metropolitana de São Paulo tenha bastante abundância em reservatórios de água, essas águas não são produzidas aqui. Por isso que a água em São Paulo fica cada vez mais cara.”
Victor Lopes acredita que a maneira como as pessoas lidam com o meio ambiente é resultado de escolhas coletivas conscientes. “A gente quer viver numa cidade inimiga da água ou aliada da água? São Paulo é um excelente exemplo de uma cidade que cresceu e continua sendo inimiga da água.”
Samuel Barreto reforçou que é de São Paulo que tem que sair uma mensagem clara e potente sobre o que queremos do futuro das águas. “É com essa ambição que temos que levar esse desejo de um novo olhar sobre esse recurso, sobre esse elemento que é fundamental para a vida.”
Marta Angela Marcondes falou sobre o desconhecimento da população sobre os rios da cidade de São Paulo e a situação em que eles se encontram. “Nós temos mais de mil e duzentos rios sendo que a maioria deles está enterrados vivos. Estes rios estão em uma UTI e ninguém olha para eles.”
Após as colocações, a mesa ouviu sugestões da sociedade civil e de representantes da iniciativa privada que ressaltaram a importância e a necessidade da produção de água na cidade, da aprovação de projetos de lei na Câmara Municipal focados no meio ambiente e em novos sistemas de reuso de água, além de estímulos à captação da água da chuva.
Assista à íntegra da programação da parte da manhã do evento e confira aqui a programação completa.
Mesa 2: Árvores – cobertura vegetal urbana e manejo sustentável
As atividades da tarde da 24ª edição da Conferência Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas em São Paulo começaram com a 2ª mesa do evento, que tratou da importância da cobertura vegetal para a qualidade do ar, controle da temperatura e gestão das chuvas.
Mediado pelo vereador Nabil Bonduki (PT), o debate abordou cobertura vegetal urbana e manejo sustentável, importância da arborização para qualidade de vida e resiliência climática nas cidades, além de estratégias para ampliar a cobertura vegetal e manejo adequado dos indivíduos arbóreos.
Corredores verdes; manejo e poda; uso de espécies nativas e biodiversidade; participação social em plantios; mitigação de ilhas de calor e melhoria da drenagem foram outras questões discutidas. “Nós temos, em São Paulo, um problema muito complexo que diz respeito à cobertura vegetal”, frisou Bonduki. “A cobertura vegetal tem o papel muito importante para gerar equilíbrio climático relacionado à questão da vegetação, sem contar os aspectos de equilíbrio urbano numa cidade extremamente construída, que passa por um processo intenso de diversificação, de transformação do solo”.
Priscila Martins Cerqueira, responsável pela Divisão de Arborização Urbana da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, foi a primeira integrante da mesa a falar. Entre outros pontos, ela citou estudos conduzidos em universidades que recomendam que 30% do território dos bairros tenha cobertura arbórea e vegetal e resumiu a situação da arborização na cidade.
“Das 32 Subprefeituras que deveriam estar com cobertura de copa de 30%, nós temos na cidade, hoje, apenas 9 que atendem esse critério. Entre elas, por exemplo, Parelheiros e Jaçanã/Tremembé, que atingem essa porcentagem porque estão localizadas nos extremos. Outras 13 têm entre 15% e 28%, como, por exemplo, Pinheiros e Cidade Ademar. E, em situação mais crítica, 10 Subprefeituras têm entre 7 e 13% do seu território com cobertura de copa. Por exemplo, Sapopemba e Jabaquara”, sintetizou Priscila, apontando as principais propostas e ações em andamento da gestão municipal para reverter a situação.
Também participante da mesa, a bióloga e pesquisadora Fernanda Rezende, especialista na relação entre plantas, poluição atmosférica e inteligência artificial para o monitoramento e manejo de florestas nas cidades, fez uma série de ponderações relacionadas às políticas públicas municipais de arborização.
Ela ainda reforçou a importância das árvores para o equilíbrio ecológico da cidade. “As árvores não são só um ornamento paisagístico, são também uma infraestrutura viva e são tão importantes quanto energia, transporte e água”, afirmou. “Precisamos que elas sustentem esses serviços ecossistêmicos, pois elas dão sombra, resfriam o ar, provêm umidade e também vão auxiliar na filtragem de poluentes, dentre vários outros benefícios”, completou Fernanda.
Representante do movimento Amora Perdizes com o projeto: O Verde Pede Passagem, Néle Azevedo apresentou um histórico do grupo e das ações implementadas no território. Em sua fala, entre outros pontos, ela reforçou o papel das árvores no ambiente urbano. “Não dá para falar das árvores sem falar do lixo, sem falar da compostagem, sem falar das águas. É um pensamento sistêmico, tudo isso está interligado. Tem que entender isso”.
Ativista ambiental do Grajaú, na Ilha do Bororé, e cocriadora de uma agência de notícias sobre meio ambiente, com foco no racismo ambiental e na preservação da Mata Atlântica em áreas periféricas, Karoline Freire Dias fez um relato da situação ambiental e sua região. A Ilha do Bororé é uma APA (Área de Proteção Ambiental), cujo foco é a preservação da Mata Atlântica em equilíbrio com a agricultura familiar.
“Essa APA onde eu moro está sob ameaça de ocupação irregular, falta de fiscalização, tem áreas degradadas e a própria juventude expôs isso”, denunciou. “E mesmo eu morando numa área de proteção ambiental, ficando no Cinturão Verde de São Paulo, ainda sentimos as mudanças climáticas, essa questão de que estão degradando essa área e que a gente precisa fazer alguma coisa para melhorar isso”, completou Karoline, abordando também desigualdade social e racismo ambiental.
Encerrando a mesa, o botânico e paisagista Ricardo Cardim, que atua com biodiversidade nativa e arqueologia botânica para restauro da paisagem natural, lembrou o passado arbóreo da capital paulista.
“Pouca gente sabe que São Paulo tem nome de vegetação. A nossa cidade, no passado, era conhecida como São Paulo dos Campos de Piratininga. Esses campos de Piratininga eram um tipo de cerrado de altíssima biodiversidade que convivia nesse território altamente produtivo de natureza, por isso os indígenas moravam aqui. Inclusive, tinha Mata Atlântica úmida, Mata Atlântica semidecídua de interior, araucárias, as matas ciliares e o cerrado”.
A fala também foi aberta para o público presente, que se manifestou. “Eu só queria falar sobre a necessidade de adicionar no currículo escolar a educação ambiental. Da mesma forma que, ao longo dos anos, o currículo foi mudando, foi adicionado filosofia, foi adicionado sociologia, a gente precisa também mostrar que é necessário ter, sim, a educação ambiental, porque os jovens estão interessados nesses assuntos”, comentou Julia Agostinho, presidente do Parlamento Jovem Paulistano e chefe educacional da Organização da Juventude Global.
Mesa 3: Resíduos – economia circular e pagamentos por serviços ambientais urbanos
Com foco em resíduos, a 3ª mesa temática da conferência discutiu economia circular e pagamentos por serviços ambientais urbanos. O conceito de reduzir, reutilizar e reciclar; a valorização de catadores, cooperativas, compostagem e soluções descentralizadas; a PMPSAU (Política Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos); e a inclusão de catadores como beneficiários no PDE (Plano Diretor Estratégico), gestão de resíduos orgânicos; e inovação e tecnologia foram algumas das questões abordadas.
A mediadora da mesa foi a vereadora Marina Bragante (REDE), coordenadora da delegação da Câmara de São Paulo para a COP30. Na abertura do debate, a parlamentar abordou os desafios da gestão do lixo e resíduos numa metrópole como São Paulo, com 12 milhões de habitantes. “Estamos falando de uma cidade muito complexa, que envolve pensar estratégias constantemente, revê-las, investir recursos, repensar, pensar quem são os parceiros”.
“Isso vem sendo feito na cidade há muito tempo e o que a gente vai discutir aqui é o resultado do que vem sendo feito há muito tempo, mas acho que, principalmente, é para onde a gente olha, para onde a gente quer levar essa cidade que produz diariamente em torno de 15 mil toneladas de resíduos”, completou Marina.
Na sequência, quem fez uso da palavra foi Nanci Darcolléte, diretora executiva do Pimp My Carroça – organização social que executa programas e projetos variados com foco nas catadoras e catadores de todo o Brasil por meio da arte, tecnologia, educação, colaboração e inovação social.
“Estou aqui para reforçar a importância da coleta seletiva com a inclusão dos catadores, destacando o papel essencial que nós, catadores, temos na gestão de resíduos e na agência climática da cidade”, pontuou Nanci. “Temos visto a marginalização dos catadores, a precarização das cooperativas frente a assuntos tão relevantes como a COP30, mudanças climáticas. Temos a impressão de que estamos indo na contramão”.
Coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis – membro da Aliança Resíduo Zero Brasil -, Elisabeth Grimberg fez uma análise da situação do descarte de resíduos na capital paulista. “A cidade de São Paulo gera 12 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares por dia e recicla menos de 3% há décadas”.
“Ainda que os caminhões da coleta seletiva percorram todos os bairros e ruas da cidade, segundo o que diz a Prefeitura, a população não recebe informações ou estímulos permanentes para se manter engajada separando os recicláveis. Não sabe diferenciar rejeitos de materiais que são efetivamente recicláveis. 30% a 50% dos materiais que chegam nas cooperativas de catadoras é rejeito”, acrescentou Elisabeth, criticando a implementação de equipamentos como incineradores como alternativa para lidar com o problema.
Osmário Ferreira da Silva, secretário municipal de Limpeza Urbana, fez um pequeno resumo das políticas públicas da cidade de São Paulo na área de gestão de resíduos. “Em que pese termos alguns gargalos, apresentamos alguns avanços. Hoje nós temos 128 ecopontos. Nos próximos dias devemos iniciar o processo licitatório de mais sete ecopontos e 75 pontos deles são originários do orçamento cidadão. Então, foi a sociedade que pensou nos ecopontos, que determinou o local. E nós estamos em vias de implantar seis ecopontos móveis”.
O PMEA (Plano Municipal de Educação Ambiental) também foi exaltado por Silva. “Já temos buscado soluções para, primeiro, conscientizar as pessoas. Temos o PMEA, feito de uma maneira intersecretarial, que realmente pensou na educação para gestão de resíduos”, frisou, elencando outras iniciativas da gestão municipal. “Podemos fazer com que esse evento desperte em cada um a consciência do que fazer com seu resíduo. Se cada um de nós aqui pensar com seriedade, certamente vamos fazer muito pela nossa cidade”, concluiu Silva.
Ativista climática, representante do Instituto Arapyaú e moradora do Jardim Pantanal, na zona leste da capital, Jahzara Oná defendeu a importância da difusão da educação ambiental, especialmente nas escolas. “Há uma estimativa de estudos que dizem que, se nada mudasse, se não mudarmos nossas atitudes, em 2050 vai haver, em peso, mais plástico no oceano do que peixe. Esse é um dado assustador”, afirmou.
“E que leva a conectar o dado global ao ato local, do que podemos fazer dentro da nossa escola, o que podemos fazer no nosso território, o que posso fazer dentro de casa. Então, esse tipo de conexão é super importante para destacarmos a importância de atuar dentro da área ambiental com as crianças”, ressaltou Jahzara.
O público presente também teve direito à fala, como Jupira Cauhy, do Cades Regional Lapa (Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura Lapa). Ela pediu maior publicidade e incentivo para experiências de compostagem de resíduos orgânicos promovidas pela sociedade civil.
Como exemplo, citou uma iniciativa promovida no Córrego Água Branca, na zona oeste. “Em uma experiência de três, quatro anos, a gente já compostou cerca de 3,5 toneladas de resíduos. Conhecemos vários outros coletivos desse tipo, então seria interessante também ter um pouco mais de visibilidade para essa experiência, porque pode ser uma pequena frente ao desafio que a gente tem de resíduos, mas é importante para a população começar também a incorporar isso”.
O vereador Hélio Rodrigues (PT), presidente da delegação da Câmara de São Paulo para a COP30, acompanhou o debate.
Mesa 4: Mobilidade urbana – transporte de baixo carbono e cidades de 15 minutos
Mediada pela vereadora Renata Falzoni (PSB), a penúltima mesa temática da 24ª edição da Conferência Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas em São Paulo abordou mobilidade urbana, transporte de baixo carbono e mobilidade ativa para redução da dependência do transporte individual.
O debate também girou em torno do conceito de cidades de 15 minutos – planejamento urbano cujo objetivo é garantir que moradores possam acessar a pé ou de bicicleta, em no máximo 15 minutos de suas casas, suas necessidades diárias como trabalho, saúde, lazer, comércio e educação – e o aprimoramento do transporte público.
No início da mesa, Renata Falzoni fez uma breve análise do cenário de mobilidade urbana e impactos ambientais na capital. “Na cidade de São Paulo, 66% das emissões dos gases de efeito estufa vêm por causa da mobilidade urbana. E, destes 66%, 73% vem dos carros individuais, principalmente por causa do combustível que a gente usa, sendo que os carros levam apenas 30% dos passageiros. E os outros 70% da população sofre numa cidade que é totalmente ineficiente no que diz respeito à mobilidade”.
“Precisamos de planos mais audaciosos, mais efetivos, mais bem elaborados em dados e realmente focados na migração modal e na migração energética. E temos que valorizar nesse sistema a bicicleta. Quem pedala não fala só de bicicleta, fala de cidade, fala de calçadas, fala de estruturas cicloviárias, fala de bicicletários, fala de transporte coletivo e fala, sim, de respeito daqueles que estão nos automóveis para com todos os outros atores”, completou a parlamentar, que fez uma série de considerações sobre o PanClima SP (Plano de Ação Climática do Município de São Paulo).
Docente da Universidade Federal do ABC e especialista em transporte público, Silvana Maria Zioni afirmou ser necessária uma mudança no paradigma do transporte. “É óbvio que esses processos são de longa duração, mas eles têm consequências a curto e médio prazo”, ponderou.
“O que eu penso como uma proposta, na verdade, é um posicionamento em direção a uma mudança da configuração do sistema e do modelo de mobilidade, que vem sendo dominado pelo automóvel privado, sob um regime que privilegia os deslocamentos individuais à fluidez do trânsito, e que socializa os custos de infraestrutura, especialmente capturados pelo automóvel”, considerou, elencando sugestões de fortalecimento para o transporte coletivo e modais energeticamente mais limpos.
Na sequência, quem fez uso da palavra foi Mauro Calliari, especialista e pesquisador sobre mobilidade ativa e espaços públicos. Entre outros pontos, ele refletiu sobre como auxiliar na diminuição na emissão de gases de efeito estufa na atmosfera urbana. “Em relação ao transporte público, do ponto de vista individual, o que faz uma pessoa mudar de hábito? É o custo, é a conveniência e o tempo. Se a gente conseguir trabalhar nessas três variáveis, conseguiremos fazer, ou induzir, ou ajudar a pessoa a mudar esse comportamento”, destacou.
A estruturação urbana foi outra questão levantada. “A inclusão de uma meta que diga qual é a distância que nós estamos das nossas casas ao transporte público. Uma meta que diga que todas as residências da cidade de São Paulo devem estar entre 300 e 500 metros até o ponto de ônibus e, no máximo, um quilômetro de uma estação de metrô”.
Liderança na área de inclusão/pessoas com deficiência, Luciana Trindade abordou os desafios da mobilidade para essa parcela da população. “Para a pessoa com deficiência, tem uma coisa que é muito difícil de se exercer na cidade, que é o direito à cidadania. E a cidadania está ligada ao direito de ir e vir, porque o primeiro passo que a gente dá no nosso dia a dia é numa calçada. E, se essa calçada não é acessível, eu não consigo acessar a saúde, eu não acesso a educação, eu não acesso o trabalho, eu não acesso cultura, eu não tenho oportunidades e, logo, eu não tenho cidadania”.
Ela ainda pediu mais engajamento da sociedade nessa questão. “Eu peço um pouco mais de empatia para vocês, para que olhem para esse tema, para que a sensibilidade seja algo inerente, diariamente. Reclamem se a calçada tem buraco, ligue 156 e fale ‘preciso que vocês venham aqui arrumar’. Calçadas acessíveis é dignidade, é oportunidade de vida”, ressaltou Luciana.
O último palestrante da mesa foi o cientista político Giancarlo Gama, fundador e diretor Executivo da Jevy Cidades, think-and-do-tank que atua com incidência política local nas pautas de mobilidade e clima, com foco em cidades pequenas e médias. Em sua fala, ele abordou o transporte coletivo como instrumento de combate às mudanças climáticas. “A gratuidade do sistema de transporte público coletivo é uma política fundamental para o combate às mudanças climáticas”, afirmou.
Mesa 5: Inovações sustentáveis para a cidade – empregos verdes e capacitação profissional
Finalizando os debates temáticos, a 5ª mesa da conferência, mediada pela vereadora Marina Bragante, discutiu inovações sustentáveis para a cidade, empregos verdes, capacitação profissional para o futuro, ecossistema de inovação e políticas públicas de inovação.
Entre os temas abordados, também estavam o alinhamento entre desenvolvimento econômico e metas climáticas; a transição justa para economia verde; e a qualificação por programas municipais como o POT (Programa Operação Trabalho) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.
De acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), já são quase 7 milhões de empregos verdes, cerca de 9% do total. Desses, aproximadamente 2 milhões são ocupados por jovens entre 14 e 29 anos. “E o que isso significa para nossa cidade, para São Paulo? Significa que precisamos transformar as nossas políticas ambientais em estratégias de emprego, renda e inclusão e falar sobre elas. E é importante reconhecer que não há um modelo único de emprego verde, eles têm uma forte marca territorial”, analisou Marina.
“Enquanto no semiárido nordestino formam-se técnicos para turbinas eólicas, em São Paulo precisamos formar milhares de profissionais para eletrificar os nossos quase 13 mil ônibus da nossa frota municipal, por exemplo. Essa é a dimensão concreta do que chamamos de descarbonizar a economia. Ao reduzir emissões na origem, trocando ônibus a diesel por veículos elétricos ou movidos a biometano, abrimos espaço para os novos empregos em toda a cadeia da indústria”, exemplificou a parlamentar, ao abrir o debate.
Julia Klein, chefe de núcleo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, fez um pequeno resumo das ações da pasta e do município com foco nos empregos verdes. “Em relação à pauta da sustentabilidade, temos o programa chamado Green Sampa. Nesse programa, basicamente, eles incentivam startups verdes que trazem inovações e também promovem a economia verde em diferentes aspectos”, comentou.
“A gente tem o Sampa+Rural, que basicamente é um programa que visa fortalecer o desenvolvimento sustentável no território rural, aproximando a relação dele com o meio urbano”, acrescentou, elencando ainda as formas de apoio financeiro, de infraestrutura e de negócios para as startups e citou outras ações intersecretariais sob o escopo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
O terceiro a falar foi Iago Hairon, oficial do Programa Sênior em Justiça Climática para a América Latina e Caribe na Open Society Foundations. Ele ponderou sobre o papel do Estado no encabeçamento das discussões e do fomento dos empregos verdes em diferentes setores.
“Como pautar a discussão em químicos verde, aço, biogás, bioinsumos e fertilizantes, para a gente produzir alimentos na cidade de São Paulo. Também tem uma discussão gigantesca sobre a economia circular, importantíssima. Mas também é importante pautar o setor de serviços. São Paulo é uma cidade de serviços e não existe ninguém estruturadamente pautando o setor de serviços ainda”, analisou, alertando para que as políticas públicas atuem para diminuir as desigualdades sociais, raciais e étnicas.
A última a palestrar foi a cofundadora do AYA HUB e ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patrícia Ellen, que analisou as potencialidades econômicas da capital paulista na questão dos empregos verdes. “Nossa economia não espelha nem nosso povo, nem a nossa natureza: ela é pouco diversa, pouco criativa, pouco complexa e com emprego de muito pouco valor agregado. Precisamos mudar isso. E São Paulo está no centro dessa história, é um dos lugares mais diversos que nós temos no nosso país”.
“A gente consegue, sim, resolver o PIB (Produto Interno Bruto), gerar emprego e resolver questões climáticas. Como? A gente tem que ter coragem de assumir a beleza dessa diversidade”, completou Patrícia, colocando como metas investir em transição energética e combustíveis sustentáveis; bioeconomia, genética e bio saúde; e economia circular, materiais regenerativos e agricultura regenerativa.
Assim como nas outras mesas, o público se manifestou e o agente de sustentabilidade Ivanilton da Silva chamou a atenção para a possibilidade de fomento de empregos verdes associados ao ecoturismo na capital paulista. “São Paulo tem duas regiões muito fortes, muito pujantes, verdes, que são o extremo sul de Parelheiros e a região do Jaraguá. Dois polos turísticos com muito verde e que precisam ser conservados, preservados, sobretudo a nossa Mata Atlântica dentro da cidade”, argumentou.
Já Bekoy Tupinambá, ativista indígena, defensora dos direitos das mulheres e das crianças e integrante do povo Tupinambá de Olivença, do sul da Bahia, lembrou que é natural dos povos indígenas a relação com a terra e o meio ambiente e que essa população precisa ser mais ouvida nas discussões estratégicas e estruturantes.
“Essa transição de trabalho verde, justo, os povos indígenas já fazem”, afirmou. “E eu sinto falta de mais indígenas incluídos nessa discussão, porque nós estamos preparados para falar, porque nós já sabemos fazer. Nós só precisamos de espaço para ocupar”.
Encaminhamentos
No encerramento da 24ª edição da Conferência Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas em São Paulo, a vereadora Marina Bragante avaliou as discussões. “O nosso trabalho aqui na Câmara é garantir que as agendas faladas hoje não fiquem apenas nos relatórios e nas conferências, mas que se traduzam em empregos reais, em transformação da nossa cidade, em ruas mais frescas, em escolas preparadas para as nossas crianças, em oportunidades concretas para nossa juventude e para as periferias”.
“Esse é o futuro que eu quero construir junto com vocês: uma São Paulo que seja exemplo para o Brasil, que chegue à COP30 mostrando que é possível enfrentar a crise climática gerando justiça e prosperidade”, concluiu Marina. A íntegra das mesas da tarde pode ser conferida neste link.
Veja também o álbum de fotos, disponível no Flickr da Câmara de São Paulo.
Leia também:
Meio ambiente em pauta: Câmara Reportagem aborda participação do Legislativo paulistano na COP30






