Audiência Pública na Câmara de SP debate a gordofobia e o atendimento às pessoas gordas em São Paulo

O debate contou com a participação de especialistas e ativistas

Por: KAMILA MARINHO
DA REDAÇÃO

5 de dezembro de 2025 - 21:45
Imagem de plenário da Câmara Municipal de São Paulo com quatro pessoas sentadas à mesa e um homem em pé ao fundo. Cadeiras azuis ao centro, público reduzido, ambiente iluminado e formal.Richard Lourenço / REDE CÂMARA SP

Em Audiência Pública na noite desta sexta-feira (5/12), a Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher da Câmara Municipal de São Paulo discutiu o “Acolhimento nos serviços de saúde às pessoas gordas”. O debate foi promovido pela vereadora Luana Alves (PSOL) em parceria com o Instituto Diversas.

 A parlamentar observou sobre a necessidade de garantir atendimento humanizado e sem discriminação no SUS (Sistema Único de Saúde), incluindo adequações estruturais e de equipamentos para o acolhimento de pessoas gordas. 

Luana conta que foi procurada por coletivos e grupos de pessoas gordas, relatando casos de discriminação, de falhas no atendimento clínicos e da falta de equipamentos adequados na rede.

“Eu acho que é importante compreendermos que o SUS precisa ser um espaço de criação de saúde e não de reprodução de preconceitos. Isso gera desistência, negligência e desassistência”, falou Luana. 

Também participaram da audiência especialistas e ativistas atuantes no enfrentamento do estigma e da desigualdade junto às pessoas gordas. Entre os assuntos foram debatidos a gordofobia institucional, a dificuldade de diagnósticos, além do comprometimento ao atendimento digno às diversidades corporais.

 Para a filósofa e pesquisadora Malu Jimenez, integrante do Instituto Diversas, são necessárias políticas públicas para atender às diversidades corporais. Para ela, é fundamental combater a discriminação. “Ninguém pensa nas pessoas gordas. Desde a cadeira quando você chega para esperar pelo atendimento até equipamentos clínicos são escassos. As pessoas gordas acabam se afastando do acesso à saúde que é um direito constitucional”.

Professora de Yoga, Vanessa Joda também contribuiu com a discussão. “Infelizmente não temos acesso a vários tipos de atendimento à saúde, o que é muito contraditório. O que mais se cobra é uma pessoa gorda saudável, mas quando ela quer se tratar, não consegue. Falta tudo, não tem maca, aparelho de aferir pressão, aparelho de ressonância adequado e tantas outras coisas”.

A comunicadora e atleta Ellen Valias disse que sofre discriminação desde muito nova. Hoje, ela trabalha na área de Educação Física para combater o preconceito contra as pessoas gordas.

“Na escola, na aula de Educação Física, foi o primeiro lugar que eu recebi a mensagem que o meu corpo não era válido e nem capaz. É lá onde deveriam ser acolhidos os corpos de todas as crianças, a diversidade. Eu trago uma trajetória de que meu corpo, mesmo fazendo atividade física, não era aceito por ser uma criança gorda”, falou Ellen. 

Denúncia de negligência médica

Um dos participantes, o professor universitário e psicólogo Felipe Fachim trouxe um caso de negligência médica com uma paciente gorda de 30 anos. “Ela é uma mulher grávida com mais de 120 quilos e com um câncer que geralmente é facilmente detectado no início. No caso dela, a doença foi confundida com alguns sintomas de obesidade. Esse diagnóstico errado trata de uma gordofobia médica”. O psicólogo ainda observou que “se fosse diagnosticada da maneira correta, evitaria todo o agravamento que vem junto com a gravidez e os cuidados paliativos”.

Participação do Executivo

Representando a SMS (Secretaria Municipal da Saúde), a nutricionista e coordenadoria da atenção básica, Josie Cleia Santos Miranda, falou um pouco sobre a rede de atendimento da capital paulista.

“Em nossas 479 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) temos macas, manguitos e cadeiras de rodas para obesos. Eu gostaria de receber as denúncias feitas nesta Audiência Pública para o setor de atenção especializada e confrontar esses dados, dar encaminhamento”, disse Josie. 

Encaminhamentos

No encaminhamento final, Luana Alves disse que vai solicitar a alteração da Lei n° 17.985/2023 – que dispõe sobre a obrigatoriedade de todos os hospitais públicos e privados possuírem equipamentos especialmente adaptados ao atendimento de obesos mórbidos. “Em todos os pontos com os termos ‘obesos mórbidos’, modificar para pessoas gordas”.

A vereadora também informou que vai pedir a ampliação do orçamento de 2026 para comprar equipamentos e estruturação de serviços de saúde para atender pessoas gordas. Além disso, foi firmado o compromisso de um grupo de trabalho permanente para diálogos constantes com o Poder Público.

Para conferir todas as participações e a íntegra da Audiência Pública, clique aqui.

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