Professor de música e rapper prestam depoimento na CPI dos Pancadões

Por: MURILO RINCON
DA REDAÇÃO

16 de outubro de 2025 - 18:45
Imagem de plenário da Câmara Municipal de São Paulo com vereadores e servidores ao fundo. Grande tela exibe homem falando ao microfone. Ambiente interno, parede de mármore claro com crucifixo. Iluminação branca e nítida, foto em alta qualidade.Douglas Ferreira / REDE CÂMARA SP

Nesta quinta-feira (16/10), os vereadores que compõem a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Pancadões se reuniram no Plenário 1° de Maio para dar continuidade aos trabalhos. O colegiado tem entre os objetivos apurar a realização de festas clandestinas na capital paulista.

No encontro desta quinta, os parlamentares da CPI aprovaram um requerimento e receberam  o professor de música Thiago Barbosa Alves de Souza – conhecido como Thiagson, e o rapper e influenciador digital Fábio Gabriel Araújo Salvador – o Salvador da Rima. 

A influência das músicas de funk no comportamento das pessoas e na apologia ao crime foi uma das principais questões discutidas na reunião. Outro ponto do debate tratou da relação do estilo musical com o uso de drogas. Presidente da CPI, o vereador Rubinho Nunes (UNIÃO) disse que a “narcocultura” está presente nos pancadões, já que as composições falam da criminalidade.

“Isso tudo está enraizado na cultura da comunidade e na existência desses bailes. Platão já mencionava que as próprias músicas influenciam o comportamento humano, que tocam a alma, e é justamente esse o ponto do debate”, falou Rubinho. 

Thiagson entende que não é a música que leva as pessoas para a criminalidade. De acordo com ele, faltam políticas públicas para estimular a geração de empregos. Além disso, o professor musical  destacou que são necessárias ações para as áreas da saúde, da cultura e da educação como forma de incentivar a cidadania. “Já houve uma tentativa de associar o funk ao crime, aos problemas sociais, culpar o funk por problemas estruturais desse país”.

“Já foi comprovado por outras CPIs que não existe uma ligação direta do funk com o crime. Isso aqui é uma pura e simples tentativa de deslegitimar uma manifestação cultural”, completou Thiagson. 

O rapper Salvador da Rima também prestou depoimento. Ele foi questionado pelo vereador Sargento Nantes (PP) – integrante da CPI. O parlamentar citou letras de músicas de autoria do cantor que falam sobre a ostentação de armas e a marginalização das mulheres. “É normal para o senhor chamar as mulheres de cachorras?”.

O influenciador digital respondeu à pergunta de Nantes. “Cachorra é um termo que você está colocando para se referir a todas as mulheres. Tem mulher que não gosta de ser chamada assim, mas tem mulher que tem orgulho de ser. Infelizmente, essa é a realidade que a gente vive. Isso não denigre e nem generaliza a todas as mulheres”, afirmou Salvador.

Os convidados também aproveitaram o espaço para defender a organização de bailes nas comunidades. Eles reforçaram ainda a importância de regularizar os pancadões. Para Thiagson, “o baile em uma comunidade tem uma importância vital. É a vida da juventude que tem direito ao lazer. O baile gera economia para a quebrada, promove encontros e gera tendências, de corte de cabelo, de dança, de estilo musical. O baile de favela tem uma importância vital até para a saúde das pessoas que trabalham muito, são exploradas, e precisam de um momento de lazer”.

Já Salvador da Rima disse que “ a periferia precisa de incentivo à educação, apoio ao esporte local, mais lazer e mais entretenimento. Então, eu acho viável permitir o barulho até certo horário, coisas que realmente atropelam a lei, mas enquanto tiver faltando todas essas outras coisas, não vai adiantar. Na periferia, dependendo da quebrada, a única opção de lazer é o baile. Então, que o baile tenha um espaço digno, o horário certo e a devida segurança”.

A vereadora Amanda Paschoal (PSOL), que também faz parte da CPI dos Pancadões, quer que a comissão também convide representantes da Prefeitura de São Paulo. “Para além dos MCs, que são muito mais chamados, a própria Bia Miranda, o Gato Preto, nós precisamos ouvir a Prefeitura e os órgãos responsáveis pela gestão da cultura, que deveriam estar promovendo a cultura e o acesso aos direitos e cidadania da população em todas as regiões de São Paulo”.

Medida coercitiva

Os vereadores também esperavam ouvir nesta quinta-feira o depoimento de Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira. No entanto, o influenciador digital não compareceu. Com a ausência dele, o presidente da comissão requereu uma medida coercitiva, obrigando Buzeira a comparecer para depor na próxima reunião.

Requerimento

Ao fim das oitivas, os vereadores ainda aprovaram um requerimento, de autoria da vereadora Amanda Paschoal (PSOL). O documento convida o departamento da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil – seção São Paulo) a acompanhar os trabalhos e oitivas da CPI.

Participaram da reunião da CPI dos Pancadões, que pode ser conferida na íntegra clicando aqui, os parlamentares: Rubinho Nunes (UNIÃO) – presidente, Lucas Pavanato (PL) – relator, Amanda Paschoal (PSOL), Cris Monteiro (NOVO), Sargento Nantes (PP) e Luna Zarattini (PT) – integrantes do colegiado, e a vereadora Keit Lima (PSOL).

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