Vereadores que fazem parte da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Íris voltaram a ouvir testemunhas na reunião desta terça-feira (17/6). Intimados a depor, dois influenciadores digitais que fizeram postagens em suas redes sociais sobre o escaneamento de íris proposto pelo Projeto World ID explicaram como promoveram o modelo. Juliano Kimura e Britney Ohana depuseram por mais de duas horas.
Logo no início das atividades, a presidente da CPI da Íris, vereadora Janaina Paschoal (PP), apresentou aos integrantes do colegiado as respostas que recebeu de pedidos de informações anteriores. “A Tools for Humanity encaminhou a documentação referente aos contratos que firmou com os veículos de comunicação. Já a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) respondeu ao ofício que não existe nenhum contrato celebrado com a empresa e não ser possível responder pela existência ou não de parceria com a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol)”.
Depoimentos
O primeiro a ser ouvido foi o influenciador digital Juliano Kimura. Apesar de ter sido colaborador da empresa, ele afirmou não ter mais nenhuma relação profissional com a Tools for Humanity, responsável por oferecer recompensas financeiras para realizar o escaneamento da íris de cidadãos paulistanos.
“Minha relação (com a Tools for Humanity) começou em 2023, antes do lançamento global. A empresa queria especialistas que soubessem sobre o Projeto World ID. Eu entendia que muitos dos problemas da falta de pessoalidade da internet poderiam ser solucionados com uma espécie de credencial de autenticidade. Era a pretensão deles e aí comecei a falar sobre eles.”
Intimado pela CPI, Juliano Kimura também colaborou como especialista em tecnologia digital. Ele contou que trabalha no setor desde o início da década de 2000. De acordo com Kimura, antes de encerrar o contrato com a Tools for Humanity, instruiu outros profissionais no processo do escaneamento de íris.
“A gente está falando de uma nova internet onde a custódia real dos ativos digitais é de responsabilidade do usuário. O Orb, que é o aparelho, possui seis sensores diferentes para possibilitar que as informações não possam ser fraudadas. Ele pega as informações e gera um sequenciador, um código. Ele é quebrado em partes, são guardadas em instituições chamadas ‘fiarias’ e só aquela pessoa tem o controle de utilizar a credencial. Ela consegue acessar a credencial própria e única através da chave criptográfica. Ninguém mais consegue”, finalizou.
A segunda a depor foi a influenciadora Britney Ohana. Ela explicou à CPI que conheceu o projeto por meio de vídeos nas redes sociais. Ohana afirmou que participou do escaneamento da íris porque precisava de dinheiro. “Vendo toda a repercussão, o intuito do vídeo era colocar humor na situação que presenciei. Eu nem entendia sobre o assunto. Fiz por iniciativa própria, ninguém me procurou. Foi por livre e espontânea vontade.”
Britney ainda descreveu como foi o dia em que participou da iniciativa. “Fiquei com medo quando cheguei, pois já não podia utilizar minha rede de internet. Ganhei umas 20 moedas, cerca de R$ 200. Na plataforma, eles ainda retiram parte do valor como taxa cobrada. A maioria das pessoas que estavam lá parecia ser bem simples, sem qualquer informação sobre o modelo. Eu me arrependo”.
Vereadores
Após a reunião, o vice-presidente do colegiado, vereador Gilberto Nascimento (PL), em entrevista à Rede Câmara SP, disse que as duas oitivas foram antagônicas e serviram para entender o modelo de escaneamento da íris realizado em São Paulo.
“Ficou claro que se trata de uma fraude em grande escala, principalmente para o povo mais carente e que precisa de dinheiro rápido. O outro depoimento foi de um contratado pela empresa para treinar pessoas que deveriam abordar quem fosse escanear a íris. Na prática não aconteceu, pois não havia nenhuma orientação, mas houve um aproveitamento de pessoas suscetíveis para a criação de um banco de dados bilionário sem deixar claro aos usuários”, falou o vereador.
Requerimentos
Os integrantes da CPI aprovaram dois requerimentos no encontro desta terça. Um deles solicita à Tools for Humanity o fornecimento da cópia integral dos contratos firmados com cada uma das empresas contratadas para funcionarem como operadoras no Brasil. O documento pede ainda explicações sobre o modelo de serviço e informações relacionadas ao pagamento de alugueis junto aos contratos com as intermediárias.
O segundo requerimento apreciado cobrou de cada operadora os contratos com os donos dos imóveis alugados em São Paulo. Segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito, a ideia é entender o objetivo da abertura das empresas intermediadoras que prestavam serviços à Tools for Humanity.
Composição da CPI
A CPI da Íris teve alteração na composição a pedido das bancadas partidárias. O Podemos indicou o vereador Kenji Ito (PODE) para o lugar do vereador Gabriel Abreu (PODE). Já o PSOL substituiu o vereador Professor Toninho Vespoli (PSOL) pelo vereador Sansão Pereira (REPUBLICANOS).
Participaram da reunião os parlamentares: Janaina Paschoal (PP) – presidente, Gilberto Nascimento (PL) – vice-presidente, Kenji Ito (PODE), João Ananias (PT), Sansão Pereira (REPUBLICANOS) e Silvão Leite (UNIÃO).
Contribuições de munícipes com a CPI
A CPI da Íris possui um canal específico para coletar contribuições e manifestações dos munícipes sobre o objeto de investigação do colegiado. O espaço para contribuições está disponível na página da CPI dentro do Portal da Câmara.
A íntegra da reunião da CPI da Íris pode ser conferida no vídeo abaixo: