
As enchentes são uma ferida aberta na cidade. A cada verão, famílias perdem casas, comerciantes veem estoques arruinados e vidas são colocadas em risco. Décadas de urbanização acelerada, solo impermeabilizado e crescimento desordenado resultaram em uma São Paulo que não consegue absorver as próprias chuvas. O caminho escolhido até aqui – piscinões, canalizações e obras emergenciais – mostrou-se limitado: gasta-se muito, resolve-se pouco, e os prejuízos se repetem ano após ano.
É hora de mudar a lógica. O conceito de Cidade Esponja, criado pelo arquiteto chinês Kongjian Yu, propõe exatamente o contrário do modelo vigente: em vez de lutar contra as águas, devemos reaprender a viver com elas. Biovaletas, jardins de chuva, pavimentos permeáveis, telhados verdes e parques alagáveis são algumas das soluções que permitem que a cidade absorva, filtre e reutilize a água da chuva, reduzindo os riscos de inundação e ainda gerando benefícios como qualidade ambiental, áreas de lazer e melhoria da saúde urbana.
O legado de Kongjian Yu transformou a forma de pensar cidades em todo o mundo. Mais do que um arquiteto, ele foi um visionário que mostrou que a infraestrutura e a natureza podem caminhar juntas. Prestar homenagem à sua obra é também assumir a responsabilidade de trazer suas ideias para nossa realidade.
São Paulo tem todas as condições para se tornar referência nacional nesse modelo. Temos universidades que pesquisam o tema, técnicos capacitados e um enorme potencial entre gestão hídrica, urbanismo e meio ambiente. O que falta é decisão política e visão de futuro.
Essa iniciativa deve envolver a revisão do Plano Diretor, a criação de incentivos para telhados verdes e pavimentos permeáveis, o investimento em Parques Lineares e o fortalecimento de infraestrutura verde em áreas críticas.
Sou presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Jardim Pantanal, uma região de várzea que há décadas sofre com alagamentos e reconheço que a questão não é simples, mas com as intervenções corretas nos locais adequados é possível ter avanços importantes.
Transformar São Paulo em uma Cidade Esponja não é utopia: a única saída sustentável para proteger vidas, economizar recursos públicos e preparar a capital para os desafios climáticos que já estão batendo à porta. Como vereador, coloco-me à disposição para construir, junto com a população e especialistas, uma São Paulo mais resiliente, justa e humana – em memória à Kongjian Yu.
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