A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Íris realizou, nesta terça-feira (30/9), duas oitivas. Representantes da empresa Festejola do Brasil Ltda. e CV Gestão e Consultoria, consideradas intermediadoras em São Paulo da empresa investigada para a locação de espaços e contratação de pessoal na execução do Projeto World ID, foram ouvidos. Destaque para o depoimento de Otávio Negrão Roquim, que chamou a atenção dos parlamentares.
O objetivo do colegiado é apurar a atuação da Tools for Humanity que oferece recompensas financeiras para realizar o escaneamento da íris de cidadãos paulistanos.
Depoimentos
O primeiro a ser ouvido foi Tiago Cortinaz da Silva, proprietário da CV Gestão e Consultoria. Por quase uma hora explicou que foi contratado para fazer locação de espaços e pessoas dada a experiência na área de consultoria em projetos educacionais. A empresa abriu duas unidades, porém a operação foi realizada em apenas uma, devido ao veto da ANDP (Agência Nacional de Proteção de Dados).
“Quando fomos chamados, nos apresentaram que o projeto estaria em vários pontos da cidade e havia o interesse em levá-lo para centros mais periféricos. Nós temos a experiência de trabalhar com redes sociais e pessoas mais vulneráveis, então replicamos o que a gente faz na maioria dos projetos no caso da Tools for Humanity. A gente leva cursos e projetos gratuitos e, como contrapartida, negociamos a cessão do espaço por um período determinado de sessão.”
Tiago Cortinaz da Silva também contou aos integrantes da CPI da Íris que o foco da empresa era, exclusivamente, apresentar a possibilidade de cidadãos fazerem a verificação da íris e orientá-las quanto ao processo. “Não havia outra tratativa”, disse.
“Contratei sete pessoas, eu mesmo trabalhava nestes espaços. Nosso grande desafio era viabilizar áreas para executar o projeto. A Tools for Humanity dizia querer criar uma identidade única para cada ser humano de modo a mitigar possíveis fraudes do próprio uso da inteligência artificial”, completou.
Na sequência, a CPI realizou a oitiva de Otávio Negrão Roquim, administrador da Festejola do Brasil Ltda. O depoimento, remoto e sem muitas palavras, foi bastante rápido. As poucas explicações sobre a participação dele na companhia geraram muitas dúvidas nos parlamentares quanto à atuação do intimado.
O intimado não conseguia se expressar, então o advogado Matheus Miranda Roquim, respondeu à CPI: “O Otávio nunca foi sócio da Festejola, mas foi representante legal contratado por um período de tempo devido ao afastamento de João Lopes Alves. Houve um pedido de um colega, ele explicou a situação familiar, e queria alguém para exercer o cargo temporariamente. Foi aí que ele entrou.”
Otávio Negrão Roquim afirmou que seu trabalho consistia em assinar documentos, porém a participação foi marcada por contradições. “Eu assinava os papéis de locação e trabalhava na administração e vendas da Legale Serviços de Representação Ltda. Eu não atuava na Festejola, não tinha atuação. O advogado me pedia, dizia que poderia assinar e eu assinava. Eu lia os papéis e sabia o que estava assinando.” No entanto, em outro trecho contou que assinava os contratos sem conhecimento do serviço que prestava.
Parlamentares
Os vereadores que integram a CPI fizeram diversos questionamentos durante o encontro. Vice-presidente da Comissão de Inquérito, o vereador Gilberto Nascimento (PL) entendeu que Otávio Roquim trabalha como ‘laranja’ da empresa que prestou serviços à Tools for Humanity. A declaração foi dada à Rede Câmara SP.
“O depoimento do senhor Otávio deixou muito claro que, ao fazermos as perguntas, nada sabia. O advogado queria responder por ele em todos os momentos. Ele é ‘laranja’ em pelo menos três empresas. Em uma delas, entre 2015 e 2017, recebeu quase R$ 6 milhões do governo federal. Tem caroço nesse angu, temos que ir mais a fundo.”
O vereador João Ananias (PT), comentou que o depoimento de Otávio Roquim deixou a desejar pela ausência de informação. “Ficamos a ver navios. Ele não sabia de nada, nenhuma informação. Um depoimento que demonstra que ele é um laranja. Não sabia o que estava assinando, não lia nada que assinava e precisamos de fatos para avançar. Hoje, o que ele trouxe é criminal, pois se estivesse de forma presencial por aqui dificilmente sairia sem ser preso. Precisamos questionar as outras empresas e os contratos que têm.”
A reunião da CPI da Íris, que pode ser vista na íntegra neste link, foi conduzida pela vereadora Janaina Paschoal (PP) – presidente do colegiado. Participaram do encontro os parlamentares: Gilberto Nascimento (PL) – vice-presidente, Ely Teruel (MDB) – relatora, João Ananias (PT) e Silvão Leite (UNIÃO).