Nesta terça-feira (14/10), vereadores da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Íris realizaram oitivas com três influenciadores digitais, intimados a prestar esclarecimentos sobre vídeos que fizeram explicando sobre o projeto World ID. O objetivo do colegiado é apurar a atuação da Tools for Humanity, que ofereceu recompensas financeiras para realizar o escaneamento da íris de cidadãos paulistanos.
Depoimentos
O primeiro a falar foi Matheus Akira Tomoto, que é influenciador, palestrante e empreendedor. Tomoto contou como recebeu a proposta da empresa Tools e destacou que, na ocasião, foi contratado para gravar um vídeo divulgando o evento promovido pela empresa em São Francisco, nos Estados Unidos, onde seria aberta uma loja da empresa. O conteúdo divulgado, além de relatar o que acontecia no evento, em solo americano, também explicava o que era o projeto World ID.
“Eu tenho uma assessoria de imprensa e uma assessoria focada em captar projetos interessantes voltados para a área de tecnologia. Nesse caso, essa assessoria entrou em contato comigo por causa de um evento que ia acontecer em São Francisco, nos Estados Unidos. Então, nós recebemos o convite para participar desse evento e não havia proposta de cachê nem de pagamento, até o momento. O combinado da viagem era eu fazer um minivlog falando sobre a viagem em si. Para mim, que faço esse trabalho, é interessante mostrar as inovações tecnológicas lançadas no mercado para o meu público. Quando chegamos lá, foi falado que era um projeto que fazia a leitura de criptografia e que o foco era garantir a humanidade da pessoa ao fazer esse escaneamento para garantir segurança”, disse o empresário.
Um vídeo feito pelo influenciador foi exibido na reunião. No conteúdo, havia a explicação do que se tratava o projeto. “Eles criaram uma tecnologia para identificar quem é humano. Imagine a importância disso para a segurança digital? A ideia é garantir a sua identidade e proteger a sua privacidade”, afirmava no conteúdo do vídeo.
Tomoto também explicou que não tinha conhecimento sobre a atuação da empresa. O depoente destacou que tomou conhecimento detalhado apenas ao chegar no evento. “Sobre as informações da empresa, muita gente descobriu do que se tratava apenas no evento. Falamos, no conteúdo divulgado nas redes, aquilo que foi passado. Antes disso, eu não tinha tanto conhecimento do que se tratava o projeto. Agora, sobre a tecnologia apresentada lá, eu achei interessante. Essa aventura de poder ir para a cidade de São Francisco, que fica na Califórnia, Estados Unidos, e ter a oportunidade de conhecer essa tecnologia que vende a questão de garantir a segurança no ambiente online, para mim é algo bom. Nesse evento, foi o meu primeiro contato com essa tecnologia promovida pela Tools”, comentou.
O empresário também ressaltou que fez o escaneamento de sua íris e ressaltou que, pelas informações prestadas, não houve armazenamento de dados pessoais após realizar o procedimento.
“Em relação a possibilidade de armazenar os dados pessoais do indivíduo após realização da operação, durante o evento eles disseram que esse armazenamento não era feito. Foi isso que foi passado lá. Inclusive, cheguei a escanear minha íris por curiosidade”, comentou o empresário. “Como o evento foi nos Estados Unidos, havia um interesse em expandir o projeto lá”, explicou o influenciador.
Na sequência, Pedro Loos, que é youtuber, músico e criador do canal Ciência Todo Dia, afirmou que assinou um contrato para ir até os Estados Unidos para participar do mesmo evento que os demais influenciadores estiveram, a fim de também produzir conteúdo em formato de vídeo, relatando sobre o projeto World ID nas redes sociais.
“Qualquer trabalho que eu realizo, sempre busco informações para entender como ele funciona. Ao tomar conhecimento da operação, confesso que achei uma tecnologia brilhante”, destacou o youtuber.
Loos também pontuou que, de início, não recebeu informações sobre a finalidade do projeto, mas que após participar do evento e adquirir mais informações do assunto, produziu um vídeo para as redes sociais com intuito de disponibilizar um conteúdo informativo.
“Previamente a gente não recebeu nenhum detalhe do que seria tratado no evento. A gente chegou até a conversar para fazer mais vídeos explicando do que se tratava a tecnologia, mas não seguimos em frente. Também é importante falar aqui, no vídeo que fiz, eu pergunto às pessoas o que elas achavam daquela ideia. Minha intenção era gerar uma discussão e entender o que as pessoas achavam do projeto. A publicação que fiz era um conteúdo informativo”, comentou Loos.
Em seguida, Bruno Correa, youtuber, que também foi convidado para participar do evento nos Estados Unidos e produzir vídeos falando sobre o projeto, comentou sobre o conteúdo que fez.
“Firmei um contrato com eles que deixava claro que eu estava disposto a viajar para conhecer o projeto e posteriormente falar sobre a proposta. Como um amante de tecnologia, para mim foi uma grande oportunidade estar lá. Após conhecer a proposta achei muito interessante, se tratava de uma tecnologia que visava garantir a humanidade da pessoa”, ressaltou o youtuber.
O influenciador ainda destacou que a proposta era apenas informar sobre o projeto e que em nenhum momento incentivou pessoas a realizarem o procedimento, uma vez que, quando aconteceu o evento que ele e os demais colegas participaram nos Estados Unidos, as operações da Tools estavam suspensas aqui no Brasil. “Eu não motivei nenhum seguidor a fazer o escaneamento. Até onde eu sei, naquele período, o projeto estava suspenso aqui no Brasil”, comentou Correa.
Presidente da CPI
Após as oitivas, a presidente da CPI, vereadora Janaina Paschoal (PP), em entrevista à Rede Câmara SP, pontuou que a cada reunião fica mais claro que a intenção da Tools sempre foi desenvolver um produto.
“Foram depoimentos interessantes, até mesmo para nós entendermos como era a relação da empresa com os influenciadores contratados para fazer a publicidade do projeto da Tools. As participantes de hoje foram relevantes por evidenciarem, de maneira muito nítida, que a empresa estava sim desenvolvendo um produto, enquanto anunciava que era apenas uma atividade de benevolência para a humanidade. O mais interessante ao ouvi-los foi perceber que todos reconheceram que para utilizar essa identidade, criada por meio do escaneamento, seria necessário que a tecnologia da empresa fosse vendida ou fornecida de alguma forma para um órgão público ou privado. Essa empresa vinha e vem criando um produto, só que isso não foi compartilhado com os consumidores que realizaram o escaneamento”, destacou a parlamentar.
Janaina ainda destacou quais seriam os encaminhamentos realizados após o registro dos depoimentos e afirmou a intenção do colegiado de ouvir outros influenciadores. “Existem outros influenciadores já intimados, agora é esperar para saber se virão ou não, mas ainda que não compareçam, nós já temos o desenho de como o processo todo se deu. Também devemos chamar outros representantes de empresas que foram contratadas para alugar espaço e captar colaboradores para operar no projeto. Nossa ideia é encerrar os trabalhos ainda este ano”, finalizou a vereadora.
A reunião da CPI da Íris, que pode ser vista na íntegra aqui, foi conduzida pela vereadora Janaina Paschoal (PP) – presidente do colegiado. Participaram do encontro os parlamentares: Ely Teruel (MDB), Sansão Pereira (REPUBLICANOS), Silvão Leite (UNIÃO) e Gilberto Nascimento (PL).