Câmara de SP presta homenagem póstuma à ativista, filósofa e escritora Lélia Gonzalez

Por: KAMILA MARINHO
DA REDAÇÃO

9 de dezembro de 2025 - 21:38
Imagem de grupo em auditório; seis pessoas em pé seguram diploma e sorriem, outras fotografam. Fundo com mesa, cadeiras e painel colorido; iluminação interna e ambiente solene.Richard Lourenço / REDE CÂMARA SP

O legado de Lélia de Almeida Gonzalez – mulher intelectual, educadora e militante do Brasil – foi oficialmente reconhecido em Sessão Solene na noite desta terça-feira (9/12) na Câmara Municipal de São Paulo. 

A concessão do Título de Cidadã Paulistana in memoriam foi proposta pela vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL). De acordo com a parlamentar, a homenagem reconhece a trajetória de uma figura importante na luta por justiça racial e de gênero no país e uma das idealizadoras do MNU (Movimento Negro Unificado).

“Sabemos que no Brasil, a maioria das mulheres negras é vítima da violência doméstica, do feminicídio e da violência de gênero. E a Lélia Gonzalez tem tudo a ver com esse momento político que estamos vivendo em nosso país, em que as mulheres estão indo às ruas dizer que não aguentam mais violência doméstica e feminicídio”, disse Silvia. 

A honraria ocorre no ano em que Lélia completaria 90 anos de idade. A condecoração foi entregue ao filho de Lélia Gonzalez, Rubens Rufino, e à neta, Melina de Lima, criadores do Instituto Memorial Lélia Gonzalez.

Rubens disse estar honrado por receber o título pela mãe. “O que eu mais me orgulho é que ela dedicou a vida pela luta do povo negro, por uma sociedade justa e igualitária. Quando ela recebe essa homenagem, independentemente do tempo cronológico, é uma forma de reconhecer a luta das mulheres negras por esse país”.

“A gente fica muito feliz e orgulhoso de estar nesse momento. Esse Título de Cidadã Paulistana da maior cidade do nosso país é emblemático, forte e potente, assim como era Lélia Gonzalez, ” completou Melina, ao lado do pai.

O presidente de honra e fundador do Movimento Negro Unificado, Milton Barbosa, também esteve presente à cerimônia. “Quando estourou a coisa do movimento negro unificado, nós fomos aprofundando as discussões. A Lélia foi fundamental de pautar a questão do povo negro, da mulher negra no Brasil e no mundo”.

Sobre a homenageada

Nascida em Belo Horizonte em fevereiro de 1935, Lélia Gonzalez dedicou a vida ao enfrentamento do racismo estrutural e à promoção da igualdade, consolidando-se como uma referência incontornável do pensamento social brasileiro.

Com formação em História, Geografia e Filosofia, e doutoranda em Antropologia pela USP (Universidade de São Paulo), Lélia Gonzalez não se dedicou apenas à academia. Como escritora, se expressou em obras fundamentais como “Lugar de Negro” e “Festas Populares no Brasil”, revolucionou a compreensão sobre identidade, cultura e as profundas desigualdades no país.

Em 1978 Lélia foi cofundadora do MNU (Movimento Negro Unificado) para impulsionar a criação de políticas públicas voltadas à população negra. Foi uma pioneira ao defender uma perspectiva “afrolatinoamericana” dentro do feminismo, exigindo a inclusão e a valorização das vozes das mulheres negras e indígenas.

Como educadora na PUC-Rio e em outras instituições, ela advogou pelo uso do “pretoguês”— uma linguagem “afrorreferenciada” — a fim de reivindicar o papel central das populações negra e indígena como pilares da formação social brasileira.

A homenageada faleceu em 1994, aos 59 anos. Ela deixou um legado que continua a inspirar novas gerações de ativistas e intelectuais, reforçando a urgência da luta antirracista no Brasil.

Confira à íntegra da Sessão Solene aqui.

Outras notícias relacionadas