Em uma solenidade na noite desta quinta-feira (27/11), a Câmara Municipal de São Paulo inaugurou dois novos bustos. As imagens são homenagens à Elisa Kauffmann Abramovich e à Theodosina Rosário Ribeiro – vereadoras pioneiras da capital paulista. As artes ficarão expostas na Galeria Lilás – Saguão José Mentor- no Hall de entrada do Palácio Anchieta.
O descerramento foi feito pelo presidente do Parlamento municipal, vereador Ricardo Teixeira (União), ao lado de familiares das homenageadas. “Precisamos lembrar que essa Casa tem 465 anos e quando a Câmara começa a existir era proibido ter mulheres na política. Mulheres não podiam nem votar, imagina participar de um mandato. Hoje, nós estamos fazendo um registro para a história da cidade. É um marco muito importante”.
A filha de Elisa Abramovich, Irene Abramovich, de 82 anos de idade, falou sobre a felicidade de participar da solenidade em memória da mãe. “Minha mãe teve duas filhas, eu e minha irmã, que já faleceu há anos. Nós não tivemos filhos, netos. Eu tinha medo que a história desaparecesse. Eu fiquei encantada quando a Câmara fez essa homenagem para não esquecerem que ela foi a primeira mulher eleita em São Paulo, pois as pessoas da geração dela não estão mais vivas”.
A família de Theodosina também participou da cerimônia. Para o único filho, Marcus José Rosário Ribeiro, é sempre bom falar sobre o legado da primeira vereadora negra da cidade de São Paulo. “Como mãe, ela foi uma pessoa muito boa. Evidentemente, teve uma vida corrida, desde o tempo como professora, diretora. Fez faculdade. E como parlamentar, ela ficou pouco tempo, mas fez um lindo trabalho para toda a comunidade negra”.
Sobre as homenageadas
Elisa Kauffmann Abramovich (1919-1963) – educadora e militante comunista – foi a primeira mulher eleita para a Câmara Municipal de São Paulo. Ela nasceu em 8 de julho de 1919, em São Paulo. Era filha de judeus asquenazes vindos do Leste Europeu.
Abramovich foi administradora-geral da Ofidas (Organização Feminina Israelita de Assistência Social) e diretora do colégio Scholem Aleichem – estabelecimento de perfil progressista e antifascista que funcionou no Bom Retiro entre 1949 e 1981.
Na juventude, entrou para o PCB (Partido Comunista Brasileiro), onde permaneceu até o fim da vida. Como o PCB estava na ilegalidade, lançou-se candidata a vereadora pelo PST (Partido Social Trabalhista), em 1947, quando foi eleita com 2.940 votos.
A parlamentar foi impedida de tomar posse por causa de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que declarou inexistentes os registros de todos os nomes eleitos do PST no Estado de São Paulo. A ação foi movida pela suspeita de ligação desses candidatos com o comunismo. Em 2013, o mandato de Elisa foi simbolicamente restituído pela Resolução 20/2013, que reconheceu a injustiça da cassação. Elisa morreu em 4 de janeiro de 1963, aos 43 anos, vítima de câncer de ovário.
Presente à solenidade, o ex-vereador Gilberto Natalini foi o autor da Resolução que restituiu o mandato de Elisa. “Eu era o presidente da Comissão da Verdade e propusemos o Projeto de Resolução que foi aprovado restituindo o mandato de 42 vereadoras e vereadores cassados. A Elisa tinha sido cassada em 1947. Ela voltou a ser reconhecida como vereadora por uma ação política nossa como forma de justiça”.
Já a educadora e advogada Theodosina Rosário Ribeiro (1925-2020) foi a primeira vereadora negra da Câmara Municipal de São Paulo. Ela nasceu em Barretos, interior de São Paulo. A ex-parlamentar era filha de um capitão da Força Pública (atual Polícia Militar) e de uma dona de casa.
Formada em Letras e Direito, atuou como professora, diretora de escola e advogada. Em 1968, iniciou a carreira política ao se eleger vereadora, com 26.846 votos, pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) — a segunda maior votação daquela eleição. Em 1970, conquistou uma cadeira na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), onde ficou até 1983.
Tanto na Câmara Municipal como na Alesp, Theodosina foi reconhecida como a primeira mulher negra na história nos dois parlamentos. Como advogada, fez parte da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, tornando-se membro-consultora emérita.
Em 2014, a Alesp criou a medalha Theodosina Rosário Ribeiro, conferida a “mulheres ou entidades de mulheres que se destacarem na sociedade em razão de sua contribuição ao enfrentamento da discriminação racial e na defesa dos direitos das mulheres no Estado”. A ex-vereadora morreu em 22 de abril de 2020, aos 89 anos.
Os bustos ficarão permanentemente na Galeria Lilás, junto às fotografias de todas as mulheres que tiveram ou têm mandatos no Parlamento Municipal. O espaço fica no térreo do Palácio Anchieta. O endereço é Viaduto Jacareí, 100, Bela Vista.
Confira abaixo as fotos do evento feitas pelo Richard Lourenço para a Rede Câmara São Paulo:

