Câmara de SP concede a Salva de Prata à Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto

Por: HELOISE HAMADA
DA REDAÇÃO

12 de dezembro de 2025 - 22:18
Imagem de grupo em auditório, oito pessoas posam sorrindo; uma segura uma placa redonda. Ao fundo, painel colorido com cidade e sol. Ambiente interno bem iluminado, público sentado à frente; clima de evento formal e comemorativo.Douglas Ferreira / REDE CÂMARA SP

Na noite desta sexta-feira (12/12), a Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto) recebeu a Salva de Prata em comemoração aos 30 anos de história. O autor da homenagem é o vereador Professor Toninho Vespoli (PSOL), que fez a entrega da honraria no Auditório Prestes Maia da Câmara Municipal de São Paulo.

Fundada em 9 de dezembro de 1995, a Abrea é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos. A instituição tem como função social a luta pelo banimento do amianto no Brasil e a conscientização dos trabalhadores e da população sobre os riscos do mineral. 

Vespoli afirmou que  muitas pessoas morreram por conta do amianto, e que as vítimas não foram indenizadas. “Não é um problema que já passou. Ainda existem escolas na cidade, por exemplo, com telhas de amianto. O que também acontece é não ter um local acessível para descarte desses materiais com amianto”. 

“Às vezes, acontece esse descarte irregular e isso é prejudicial para a sociedade. Queremos a abolição do amianto no mundo. Por isso, faz muito sentido esse reconhecimento para a Abrea, que é uma entidade que ainda tem muita luta pela frente”, completou o parlamentar.

Uma das fundadoras da associação, Fernanda Giannasi, contou que quando era fiscal do Ministério do Trabalho, em Osasco, Região Metropolitana de São Paulo, fez uma fiscalização em uma empresa de produtos de amianto. “Quando ela fechou, começaram a aparecer os doentes. Então, eu expliquei que eles precisavam de uma entidade que os representassem. Por isso, a Abrea foi fundada”. 

“São 30 anos de luta permanente por dignidade do trabalho e do trabalhador, pelo banimento do amianto, que só conseguimos em 2017 no Supremo Tribunal Federal. Agora, estamos lutando pelo fechamento da única mina em funcionamento, em Goiás, que só produz para exportação, e para que as vítimas sejam tratadas, indenizadas, tenham um tratamento médico adequado. A sobrevida deles é muito pequena depois que se descobre a doença”, explicou Giannasi.

De acordo com a instituição, o amianto – ou asbesto – é uma fibra mineral natural sedosa abundante na natureza e com baixo custo. Ainda segundo a associação, no Brasil, o mineral tem sido empregado em produtos, principalmente na indústria da construção civil, como telhas, caixas d’água de cimento-amianto, e em outros setores e produtos como guarnições de freio, juntas, gaxetas, revestimentos de discos de embreagem, tecidos, vestimentas especiais, pisos e tintas.

Entre as doenças relacionadas ao amianto estão a asbestose – doença crônica pulmonar de origem ocupacional – cânceres de pulmão e do trato gastrointestinal. Além do mesotelioma – tumor maligno raro e de prognóstico sombrio, que pode atingir tanto a pleura como o peritônio – que tem um período de latência em torno de 30 anos. Foi o que acometeu o pai de Sandra Batista Bueno, que representou na Sessão Solene os familiares das vítimas do amianto.

Ela disse que o pai dela começou a trabalhar em uma fábrica de produtos de amianto aos 21 anos e morreu aos 84 anos, em 2022. “Ele teve mesotelioma do peritônio. Foi traumático para todos nós. Ele chegou a falar com uma médica do trabalho que tinha problemas crônicos de saúde no pulmão. Ele tinha coriza, catarros, chiado no peito, apneia do sono. Todas essas doenças foram por causa das fibras do amianto. Meu pai passou uma vida com esses sintomas”.

Para o presidente da associação, Eliezer João de Souza,o reconhecimento do Legislativo paulistano é muito importante para lembrar o que foi feito nesses 30 anos e fortalecer o trabalho para novas lutas. “Essa homenagem é justa porque nós conseguimos acabar com o amianto, que é um produto cancerígeno que as futuras gerações não vão mais morrer contaminadas porque não vai ser mais produzida no país”.

Eliezer quer que o PL (Projeto de Lei) 751/2025, do vereador Professor Toninho Vespoli (PSOL), seja aprovado na Casa. A proposta autoriza o Executivo a retirar materiais contendo amianto das escolas públicas municipais. “São Paulo vai ser a cidade pioneira no Brasil a tirar o amianto das escolas. Queremos que essa Salva de Prata também nos ajude a ganhar força na aprovação deste Projeto de Lei”.

O vice-presidente da Abrea, Marcos Zanin, também agradeceu a honraria e lembrou das pessoas em todo país que morreram por causa do contato com amianto. Mais de 600 vítimas foram lembradas na sessão. “É uma glória para nós. É um reconhecimento muito importante por todo coletivo, por essa luta que tomou grandes proporções no país e internacionalmente. A Salva de Prata é importante para que essa luta continue porque há muito o que se fazer ainda para banir o amianto no mundo e resgatar direitos que ainda não foram conquistados”.

Confira a Sessão Solene na íntegra aqui.

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