PLs mudam nomes de ruas que homenageiam colaboradores da Ditadura

19 de outubro de 2014 - 03:06

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A pacata rua Dr. Sergio Fleury, na Vila Leopoldina, é uma das que podem ter seus nomes alterados. Foto: Luiz França / CMSP

FÁBIO DE AMORIM
DA TV CÂMARA

Desde 2012, a Comissão da Verdade Vladimir Herzog debate as homenagens feitas no município a figuras publicamente ligadas à repressão durante o período da Ditadura Militar, como nomes em logradouros, praças, prédios públicos e honrarias concedidas pela Câmara Municipal. Em maio de 2013, a Comissão da Verdade recebeu uma lista de nomes e apelidos de pessoas que atuaram ativamente para o regime. A pesquisa chegou a 2.302 mil referências, todas repassadas pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo.

Essas referências foram cruzadas com os bancos de dados do Legislativo, o que resultou em uma lista de 21 pessoas que foram homenageadas com títulos, medalhas e nomes de logradouros ou escolas. Todas essas pessoas foram agentes torturadores da Ditadura ou tiveram ligação comprovada com a repressão. No total, são 13 logradouros, 12 honrarias e um nome de escola, sendo que alguns receberam mais de uma homenagem.

Um dos casos é o do famoso Minhocão, como é conhecido popularmente. Seu nome oficial é elevado Costa e Silva. O Projeto de Lei 288/2014, do vereador Eliseu Gabriel (PSB), pretende alterar a nomenclatura do local para elevado Presidente João Goulart.

O ex-presidente Costa e Silva comandou o país entre março de 1967 até sua morte, em 1969, e indicou o governador responsável pela obra, Paulo Maluf. Durante seu mandato, Costa e Silva extinguiu a Frente Ampla – movimento de oposição que reuniu políticos do período pré-64 – e editou o AI-5, que lhe deu poderes para fechar o Parlamento, cassar políticos e institucionalizar a repressão e a tortura. Seu governo começou a fase mais dura e violenta do regime militar. Além disso, Costa e Silva – que recebeu o título de cidadão paulistano em 1965 – contribuiu decisivamente para o golpe que derrubou o então presidente João Goulart em 1964.

Rua Sérgio Fleury
O Elevado Costa e Silva não é um endereço com CEP. Ou seja, ninguém mora no “Elevado número tal”. Mas outras vias batizadas em homenagem a agentes da Ditadura possuem moradores, e uma mudança de nome obrigaria essas pessoas a alterarem o endereço nas empresas que oferecem serviços públicos, como luz, água e gás, nos bancos e no cartório de imóveis, o que gera um custo (saiba mais no box abaixo)

O trabalho e os gastos que resultariam da mudança são a principal reclamação dos moradores da rua Dr. Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina. É uma rua pequena, sem saída, com pouco mais de 30 casas e muitos idosos entre os residentes.

Sérgio Paranhos Fleury foi um delegado que chefiou o Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Sob seu comando, a instituição tornou-se um dos piores centros de tortura e morte da Ditadura. O Projeto de Lei (PL) 243/2013 propõe alterar o nome do local para Tito de Alencar Lima. Frei Tito, morto aos 28 anos, foi um dos torturados pelo delegado.

“Para mim, o nome Sérgio Fleury não significa nada. Muita gente fez coisa errada e recebeu nome de rua. Já pensou se formos mudar todas”, questiona a dona de casa Maria de Lourdes Rodrigues, uma das moradoras do local. “Eu vi uma reportagem sobre uma rua que mudou de nome e as pessoas tiveram um monte de problemas, as correspondências não chegavam, vinha tudo errado. Acho que o Brasil tem muitas outras coisas para se preocupar antes disso.”

Mas a oposição à mudança não é unanimidade entre os residentes. A também dona de casa Michele Cristina Furquim acha que vale a pena enfrentar a burocracia para morar em um lugar cujo nome lembra a resistência à Ditadura. “Seria uma homenagem bonita pro Frei Tito”, diz.

Até 2013, não era possível alterar o nome de um logradouro em São Paulo sem a aprovação de pelo menos dois terços dos residentes. Mas naquele ano o Executivo sancionou uma lei que permite a mudança sem consulta caso o homenageado tenha cometido “crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos”, exigindo consulta à população apenas para a escolha do novo nome.

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CPI dos Pancadões realiza oitiva com produtor de funk e youtuber

Por: VITÓRIA SANTIAGO
DA REDAÇÃO

28 de agosto de 2025 - 19:30
Douglas Ferreira / REDE CÂMARA SP

Vereadores que compõem a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Pancadões da Câmara Municipal de São Paulo ouviram nesta quinta-feira (28/8) um produtor de funk e um youtuber. Eles foram intimados a prestar depoimento por suposto envolvimento no crime organizado. 

Henrique Alexandre Barros Viana – o “Rato” – da produtora “Love Funk”, e o professor e youtuber, Thiago Torres Moura Santos, conhecido como “Chavoso da USP”, também falaram sobre possível participação com menores de idade em festas de baile funk. 

O secretário municipal de Cultura e Economia Criativa, José Antônio Silva Parente, e Bruno Alexssander Souza Silva – o “Buzeira” –  estavam na pauta da CPI para contribuírem com o trabalho da Comissão. Porém, eles não compareceram. 

A reunião do colegiado foi conduzida pelo presidente da Comissão, o vereador Rubinho Nunes (UNIÃO). Além dele, participaram os parlamentares Kenji Ito (PODE), Lucas Pavanato (PL), Cris Monteiro (NOVO), Amanda Paschoal (PSOL) e Keit Lima (PSOL)

Durante a oitiva, os vereadores fizeram uma série de questionamentos ao produtor e para o youtuber. Entre os principais assuntos tratados nesta tarde estão a possível participação de ambos no crime organizado, a produção de músicas exaltando a hipersexualização e eventuais uso de drogas e de bebidas alcoólicas. Eles também foram perguntados se há gerenciamento de menores de idade na realização de trabalhos musicais em festas de baile funk. 

Depoimentos

A CPI dos Pancadões iniciou as oitivas com Henrique Alexandre Barros Viana – o “Rato”. O produtor afirmou que os pais dos menores de idade acompanham as gravações, e que a produtora recomenda consultas psicológicas aos participantes com menos de 18 anos  que prestam trabalho à “Love Funk”. 

“Os pais acompanham os menores de idade que fazem trabalhos por meio da nossa produtora e o contrato só é assinado a partir da autorização dos responsáveis”, falou o produtor. “Nós também recomendamos que os jovens que fazem parte da nossa produtora realizem o acompanhamento com psicólogos, mas eles geralmente não vão”.

Viana também disse que os cantores contratados não estão envolvidos com o crime organizado. De acordo com ele, o funk é uma fonte de renda para os artistas sustentarem às famílias. “É sempre importante lembrar, que independente da gente gostar ou não de funk, os jovens cantam o que vivem e dependem disso para ganhar dinheiro e ajudar suas famílias”.

“Rato” falou ainda que a produtora “Love Funk” não tem ligação com nenhuma facção criminosa. Segundo o produtor, a orientação aos artistas é para não produzirem músicas que mencionam o crime organizado. “Não temos relação com o crime organizado e trabalhamos para que nossos artistas não façam músicas desse tipo”.

Henrique Alexandre Barros Viana contou que a “Love Funk” gerencia mais de 180 artistas. Desses, cerca de 20 são menores de idade. Viana ressaltou ainda que os contratos são feitos no Brasil, mas grande parte dos valores é recebida em dólar. “Existe uma relação da produtora com empresas internacionais, para que a monetização de músicas divulgadas pelas diversas plataformas e shows de alguns artistas da ‘Love Funk’ ocorram em nível internacional”.

Logo na sequência, foi a vez do professor e youtuber Thiago Torres Moura Santos – o “Chavoso da USP” – prestar esclarecimentos. Ele afirmou que há preconceito com o gênero musical. Thiago destacou que os bailes funk são frequentemente associados ao crime organizado, denegrindo, assim, a população periférica.

“Trazer o ponto de vista da periferia, de um frequentador de baile funk que defende essa cultura, é importante. Essa CPI poderia ter o intuito de achar soluções para quem quer frequentar o baile funk”, disse “Chavoso da USP”.

Thiago Torres disse que não tem local adequado para organizar as festas, “o que acaba gerando um problema que é uma das questões que foram tratadas aqui: a questão de perturbação de sossego”. 

“Chavoso da USP” também entende que há preconceito com os bailes funk, criminalizando quem frequenta as festas. “Querem criminalizar esse jovem, tratar ele como um bandido”.

“A perturbação do sossego também acontece nos bairros nobres e nos bairros centrais. Esses bairros não são investigados e nem os donos de estabelecimento dessas regiões. Ou seja, há uma perseguição e deterioração com o povo periférica”, completou Thiago.

Durante a oitiva, os vereadores pediram explicações sobre eventuais envolvimentos de bares e adegas na promoção das festas, pancadões e bailes funk.  Uma das preocupações é que esses estabelecimentos possam fornecer bebidas alcoólicas ao público jovem e contribuir com a prostituição.

Para o youtuber, “quem organiza os bailes são comerciantes locais para que clientes comprem bebidas e aqueçam seus negócios. É preciso trabalhar na promoção de espaços adequados para que estas festas ocorram e o trabalhador, que também vai nessas festas, consiga aproveitar. Não podemos dizer que a promoção de prostituição e o uso de drogas é feita pelos pancadões”.

Após os depoimentos, o presidente da CPI, vereador Rubinho Nunes (UNIÃO), disse que é importante ouvir as pessoas que moram nas comunidades para contribuir com o trabalho do colegiado. Ele também falou sobre os próximos passos da Comissão.

“Nós temos mais pessoas para serem ouvidas, tivemos diversos requerimentos aprovados, que ainda devem ser respondidos. A CPI foi prorrogada por mais 120 dias, dada a complexidade do problema”, afirmou Rubinho.

O parlamentar explicou ainda que aguarda informações solicitadas em requerimentos para dar continuidade às apurações. “Nós temos requerimentos de informação das Subprefeituras, das autoridades policiais. Precisamos dessas respostas para que possamos ter a dimensão da profundidade do impacto dos pancadões nas comunidades”. 

 

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