CPI da Íris: parlamentares ouvem prestadores de serviço da Tools for Humanity

Por: VITÓRIA SANTIAGO
DA REDAÇÃO

7 de outubro de 2025 - 15:42
Reunião da CPI da Íris, realizada em 7 de outubro de 2025 na Câmara Municipal de São Paulo. A foto mostra quatro pessoas à mesa - sendo dois vereadores do colegiado -  e uma em chamada de vídeo com um dos depoentes do dia exibida no telão. Plenário com luz natural, paredes claras e móveis de madeira; ambiente formal e bem iluminado.Lucas Bassi | REDE CÂMARA SP

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Íris realizou, nesta terça-feira (7/10), duas oitivas. Foram intimados para prestar esclarecimentos um representante da empresa GHP Prestadora de Serviços LTDA e uma microempreendedora. Os prestadores de serviço, considerados intermediários em São Paulo da empresa investigada para a locação de espaços e contratação de pessoal na execução do Projeto World ID, foram ouvidos.

O objetivo do colegiado é apurar a atuação da Tools for Humanity, que ofereceu recompensas financeiras para realizar o escaneamento da íris de cidadãos paulistanos.

Depoimentos

Gustavo Hausladen Lobato, representante da empresa GHP Prestadora de Serviços LTDA, foi o primeiro a prestar depoimento. Ele contou como conheceu o projeto. “Eu sou advogado e também empresário. Sou amigo de um empresário espanhol que foi meu contemporâneo de faculdade na Espanha. Tenho bastante contato com ele e, nos últimos anos, eu já sabia que ele estava trabalhando no projeto World ID. Ele havia me comentado por cima sobre o projeto, mas eu nunca havia me preocupado em entender os detalhes. Na metade do ano passado, ele me procurou dizendo que, por determinação da TFH, que é a empresa que coordena esse projeto, o próximo país que iam operar seria o Brasil. Na ocasião, ele me pediu um apoio, disse que precisava de alguém para dar uma consultoria ou ser sócio na prestação de serviço. Na hora, eu disse que tudo bem, mas também disse que queria entender do que se tratava o projeto”, comentou Lobato.

O advogado também disse que, durante a conversa com esse empresário, ele buscou entender como seria a participação no projeto e se o serviço seria remunerado. “Ele me disse que nós seríamos prestadores de serviço. Disse que seríamos os responsáveis por identificar os pontos comerciais, fazer os contratos de aluguéis e contratar funcionários e que seríamos remunerados por isso”, ressaltou o advogado.

Lobato ainda destacou que, ao fazer parte do projeto, recebeu orientações sobre como seria a dinâmica. Ele pontuou que, a princípio, acreditava que essa seria uma proposta para auxiliar na verificação e prevenção de fraudes online e que essas orientações foram passadas aos funcionários contratados por ele.

“Eu fiz uma espécie de entrevista com um rapaz chamado Rodrigo Tozi e com uma pessoa chamada Amanda para conseguir ser um representante. Nós fizemos treinamentos com a TFH e demos treinamentos aos funcionários. Mas acho importante dizer que muitas coisas não saíram conforme o previsto. A gente deu um treinamento e a gente estava repetindo aos funcionários as orientações passadas. Infelizmente, dependendo da mão de obra que você está capacitando, você vira as costas e aquela pessoa acaba fazendo de outro jeito, não seguindo ao que foi passado”, disse Lobato.

Na sequência, a microempreendedora Juliana da Silva, que mora nos Estados Unidos, foi ouvida pelo colegiado. Ela destacou que tinha o sonho de empreender e, por isso, ao ver os trabalhos realizados por meio do projeto Word ID aqui no Brasil, ela afirmou que se interessou em ser colaboradora da empresa. Juliana também destacou os serviços que realizou à empresa.

“Eu conheci a Word ID em 2023 por meio da internet. Eu mesma me cadastrei através do site oficial e foi uma busca por oportunidade. Naquele momento, eu já buscava a oportunidade de empreender. Eu já planejava deixar o Brasil, então quando a World ID apareceu no Brasil, em novembro, eu quis fazer parte do projeto. Assim que comecei a fazer parte, fiz locação de espaço e auxiliei na montagem de equipes que ajudaram nas operações do projeto Word ID”, comentou a empresária.

A empresária concluiu afirmando que as operações foram interrompidas assim que houve ordem da Justiça. “Todas as minhas empresas aí no Brasil foram fechadas. Até que as questões sejam resolvidas com as autoridades”, pontuou Juliana.

Ao ser questionada sobre o motivo da Tools teria escolhido a cidade de São Paulo para realizar as operações, Juliana disse que “não informaram nada a ela a respeito disso, mas que acredita que São Paulo seria o melhor lugar para começar o projeto”.

Parlamentares

Após as oitivas, a presidente da CPI, vereadora Janaina Paschoal (PP), afirmou estranhar uma empresa estrangeira optar por terceirizar seus serviços. A parlamentar pontuou que só essa decisão da Tools For Humanity, em si, já configura uma tentativa de distanciamento dos órgãos de controle do Brasil.

“As oitivas de hoje só confirmam uma prática da Tools For Humanity de subcontratar outras empresas para fazer o seu papel. O que nos intriga muito é saber que as empresas subcontratadas também contrataram. Ou seja, a Tools veio para o Brasil, não se instalou formalmente, contratou empresas brasileiras para alugar espaços e contratar pessoas. Isso cria uma estranheza e distância entre os órgãos de controle do país e a empresa que pegava os dados dos nossos cidadãos”, disse a vereadora.

A parlamentar também destacou que escolher a cidade de São Paulo para realizar as operações mostra a procura por diversidade. “Eles alegam que a cidade foi escolhida porque se desse certo aqui daria certo em qualquer lugar, mas houve outras testemunhas que já confirmaram que a diversidade da população paulistana seria importante para o desenvolvimento desse produto deles”, disse Janaina Paschoal.

A vereadora ainda ressaltou que os trabalhos de investigação continuarão e que todas as medidas necessárias para, definitivamente, promover segurança de dados aos cidadãos paulistanos, continuarão. “Nós ainda temos muitos depoimentos a colher, nosso trabalho tem sido bastante comedido e técnico, pautado pelo respeito, mas também com muita seriedade. Nós continuaremos firmes nessas investigações e conseguiremos, definitivamente, promover segurança de dados à população paulistana”, concluiu a presidente.

Para o vereador João Ananias (PT), integrante da CPI, após todas as oitivas que ocorreram até aqui, é necessário que outras autoridades competentes auxiliem nas abordagens e seguimento dos trabalhos para que os devidos crimes sejam identificados.

“A cada oitiva que temos eu acho ainda mais estranha essas contratações feitas pela Tools. A cada depoimento vemos que as ideias não batem. Parece mais aquelas empresas que querem desviar a atenção das pessoas e, está parecendo, até mesmo, que houve a tentativa de um grande golpe na cidade de São Paulo. Eu acho que desde o início deveríamos ter chamado o Ministério Público até mesmo para nos auxiliar e conseguirmos indiciar essas pessoas. Somente uma investigação mais ampla, do Poder Público, para a gente entender o objetivo dessas lojas/operações abertas aqui no município”, concluiu Ananias.

A reunião da CPI da Íris, que pode ser vista na íntegra aqui, foi conduzida pela vereadora Janaina Paschoal (PP) – presidente do colegiado. Participaram do encontro os parlamentares: Kenji Ito (PODE), Silvão Leite (UNIÃO), Sansão Pereira (REPUBLICANOS) e João Ananias (PT).

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